“Se tem alguém que vai ser salvo pelo seu 13º, esse cara sou eu”, a frase (ao lado de uma foto de Roberto Carlos), é uma das centenas de brincadeiras postadas na Internet, motivadas pelo sucesso da canção Esse cara (mais uma dele sem Erasmo Carlos), carro-chefe do compacto duplo lançado no mês passado por Roberto Carlos. Mesmo com a pirataria descarada que afronta a lei abertamente, o Rei é o mais vendido em todas as lojas de departamentos e nas cada vez mais raras lojas de disco do país: “A princípio eu não iria pedir, pois o CD/DVD gravado em Israel eu vendi muito pouco. Mas depois de tanta procura, resolvi fazer um pedido desse EP, ainda tive que ouvir uma piadinha do vendedor”, diz Fábio Cabral, cuja loja, a Passa Disco, é especializada em música nordestina, em geral, e pernambucana em particular.
Onipresente na música popular brasileira desde 1963, Roberto Carlos desacelerou a carreira discográfica nos anos 2000. Seu último disco de inéditas é de 2003, Pra sempre, com nove canções novas (apenas uma com Erasmo Carlos). Um álbum ainda fortemente influenciada pela perda da mulher Maria Rita, a quem é dedicado. Desde então, RC tem lançado apenas projetos especiais, de um álbum de duetos, à parceria com Caetano Veloso, num DVD dedicado à bossa nova e Tom Jobim. Com Esse cara sou eu, Roberto Carlos fez as pazes com o sucesso radiofônico. O compacto duplo, traz apenas mais outra faixa inédita, Furdúncio (parceria com Erasmo Carlos), um funk carioca, mas da Urca, à RC.
As outras duas faixas vieram de trilhas de novelas: A mulher que eu amo (Roberto Carlos), e A volta (com Erasmo Carlos), esta última uma opção tirada do fundo do baú (foi feita para o duo Os Vips, em 1967), numa época de vacas magras em inspiração. Esse cara sou eu é simples como o que ele compunha nos anos 60. Não está entre suas canções mais inspiradas, porém traz um bom humor que ele parecia ter perdido. A letra de um romantismo sem firulas, e a melodia básica, e assoviável à primeira audição fazem a receita certa para cair no gosto popular. “Um dia eu recebi a visita da ilustre amiga Glória Perez. Mostrei uma música e ela falou que era perfeita para o casal principal da novela. É uma honra cantar para os personagens de Nanda Costa e Rodrigo Lombardi. Fiz essa música falando do cara que toda mulher gostaria de ter e que todo homem gostaria de ser. E é o cara que eu tento ser”, explicou Roberto Carlos, em seu site oficial, como a música foi parar na novela Salve Jorge.
É como se o recluso cantor tivesse, de repente, saísse de um estado letárgico que durava quase dez anos. Ele então tomou conhecimento de que um cantor chamado Michel Teló tornara-se o artista brasileiro mais conhecido no exterior, com um sucesso circunstancial, mas contagioso. O Rei setentão até cantou Ai se eu e pego, o hit de Teló, num show que fez na semana passada em São Paulo. E vai cantá-lo no especial de final de ano da TV Globo. Esse cara sou eu vai ser a trilha da ceia natalina do país como acontecia até meados dos anos 90, quando Roberto Carlos teve que disputar as paradas as vendagens com duplas sertanejas, que passou a cortejar em disco e especiais televisivos. RC acenou mesmo para um aguardado álbum de inéditas, entrevista anual que concedida dia 5 de novembro, antes do já tradicional cruzeiro Emoções em Alto Mar (em sua oitava edição).
Garantiu que deixar de lançar disco anual, foi uma decisão pessoal. Pretendia produzir um a cada três anos, mas nem isto conseguiu. De certo, apenas que finalmente, será lançado CD, DVD e blu-ray Roberto Carlos ao vivo em Jerusalém, prometida para o Natal do ano passado. Porém, mesmo que o Ao vivo em Nova Jerusalém seja mais uma vez protelado, e o álbum de inéditas não se materialize. Esse cara sou eu faz de Roberto Carlos novamente o peru de natal sonoro dos brasileiros, como aconteceu desde que seu álbum anual, a partir dos anos 60, passou a ser lançado, estrategicamente, em novembro.
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