Entrevista concedida a Marcelo Fróes, Marcos Petrillo e Carlos Savalla,
Antes de voltarmos ao início de sua carreira, na melhor tradição das entrevistas do IM, vamos começar falando de seu novo disco. Como está?
A idéia deste disco já vinha rolando há algum tempo, e seria de regravar algumas músicas. Quando a gente chega ao estágio de mais de 500 músicas, a gente faz um balanço da vida e diz: “Pomba, quanta música eu fiz e que ninguém conhece!” Sabe? Porque não tocou no rádio e tudo, músicas que as pessoas gostam e ninguém conhece. Então eu falei: “Pô, tá na hora de dar uma regravada nessas músicas, com uma outra levada e aproveitando a nova tecnologia”. E também músicas que o Roberto gravou e que eu gostaria de ter gravado. Daí a idéia do disco, que também teria umas três músicas inéditas… mas que não deu pra sair, porque aí minha vida tumultuou e eu não consegui fazê-las. Mas, como tudo, Deus sabe o que faz. Tudo é a vontade dele, então não foi a hora de fazer as músicas novas. Então agora eu tô sentindo que tá começando a hora, porque o meu tesão musical interior está se reacendendo de novo. Chegou a hora de já ir pensando no próximo disco.
Você acha que vai ter uma periodicidade, que os discos vão voltar a sair com maior frequência?
Não como era, sabe, porque também gravar disco todo ano nunca foi a minha.
Mas nos anos 60 e 70 você lançou muita coisa.
Teve ano, por exemplo, que saiu dois discos. Mas às vezes fiquei dois anos sem lançar disco.
Ninguém mais faz isso de lançar disco todo ano. Os discos atualmente têm uma vida muito mais longa, com todo um trabalho de divulgação. O disco acaba vivendo muito mais do que antigamente. Não temos mais singles, mas em compensação temos uma série de coisas que estende o disco.
É, mas na época em que fazíamos um disco por ano, muitas músicas ficaram desconhecidas. Músicas que eu adoro e que representam momentos da minha vida. Como Grilos , por exemplo, que é de uma época em que eu era hippie. Era uma coisa bonita mas ninguém conhece.
Este novo disco é decorrência do contacto que você restabeleceu com a PolyGram, por ocasião de sua participação naquele CD quíntuplo dos 30 anos da Jovem Guarda?
Foi. Eu ia gravar um disco independente, eu estava com essa idéia na cabeça. Mas aí houve essa reaproximação com a PolyGram… por causa do “Projeto Jovem Guarda” e aí dele passamos para esse.
O quê você achou de todo esse movimento de 30 anos da Jovem Guarda?
Achei ótimo, bicho. Achei legal, tá todo mundo trabalhando, todo mundo na ativa. Isso aí é bom. O revival pode ser a mola-mestra, mas ele sempre desperta em vários artistas o desejo de fazer coisas novas. Eu tava vendo a entrevista da Martinha essa semana. Ela tá super-animada, querendo fazer novas coisas. Isso é bom.
Esse “Projeto Jovem Guarda” representou então uma retomada de todo esse pessoal. A geração não conhece, não tem acesso.
Eu costumo dizer que a nova geração assume o antigo como se fosse novo… porque não conhece. (…) E olha que ninguém nunca parou de trabalhar.
Só que a mídia não lhes dá espaço. De qualquer forma, rolou o revival através do projeto da PolyGram mas, em seguida, rolou um certo racha. Porque o pessoal de São Paulo e o do Rio se desmembraram. O de São Paulo fez um disco ao vivo pela Paradoxx em dois volumes e o do Rio gravou os shows no Canecão.
Como eu só participei do disco, eu tô sabendo disso através das revistas, que publicam anúncios dos dois shows – os quais usam até o mesmo logotipo da capa do disco. Mas, de repente, a coisa rola até por questões financeiras. É muita gente, para se levar de uma cidade para a outra. Ficaria um show inviável, se fosse todo mundo junto para os mesmos lugares. De repente, essa é uma explicação.
O quê você achou da participação de Caetano Veloso?
Achei ótima, achei legal. O Roberto não pôde participar, né? Então ele fez bonito, fez direitíssimo… Não mudou nada. Achei muito digna, muito legal.
E aí, como é que é cantar Amar Pra Viver Ou Morrer de Amor agora?
Puxa, a mesma coisa. A mesma alegria, o mesmo sentimento. Eu gosto muito dessa música. Gosto, gosto que me enrosco.
Quais são os planos com o disco?
Fazer a carreira do disco. Vamos fazer um clip de Do Fundo do Meu Coração , eu e a Adriana Calcanhoto. Vamos fazer alguns programas de televisão juntos. Pelo menos, é o que está no papel. Quatro programas, parece. Em seguida, pretendo fazer shows primeiramente em outros estados, para ir amadurecendo a coisa e tendo idéias… pra quando chegar ao Rio e a São Paulo, estar com tudo em cima. Acho que isso vai ocorrer lá pra outubro ou novembro.
E em termos de mercado latino?
Se até hoje não foi, bicho, eu acho que não vai mais não.
Houve alguma tentativa?
Houve muitas.
Na época da RGE?
Teve Sentado À Beira do Caminho . Viajei muito com essas coisas de América do Sul, mas… depois que eu passei para a PolyGram, eles não tinham interesse comercial.
Mesmo assim você fez O Comilão e Cachaça Mecânica .
Fiz, mas não pela PolyGram. Lá fora, foi pela RCA Victor. Saiu no mundo inteiro, deu primeiro lugar na Holanda e na França. Eu fui lá, fiz especiais.
E para o mercado italiano?
Nunca, nunca.
E quanto ao mercado internacional? Teve continuidade?
Não teve, pelo seguinte: Cachaça Mecânica era um samba… e, para eles, um samba político. O Comilão , que veio a seguir, poderia até ter sido considerado político, de uma certa forma, porque é a estória de um cara que ganha num programa de TV o direito de comer de graça pelo Brasil adentro. Ele come tanto que desfalca a exportação brasileira! Então eles viram nisso uma pitada política. Gostaram… A terceira música foi Close , que saiu lá mas não teve nada. Não era política…
É, a política era outra… (risos)
Pra sintetizar, esse rock em português que eu canto não tem a mínima chance lá fora. Pra fazer sucesso lá fora, ou é samba ou é música romântica ou é novas tendências brasileiras de ritmo. Rock puramente simples não teve chance e nem nunca teve. Não é só por mim, ninguém consegue.
Já que a gente caiu no rock, vamos falar do começo. Como é que ele começou para você?
Pra mim começou com Rock Around The Clock, que um dia eu ouvi da rua, tocando numa festa, e pelo qual me apaixonei. Parei na frente da festa e disse: “Meu Deus, o quê é que é isso? Que coisa bonita!” Eu já gostava de música antes. Luiz Vieira, Jackson do Pandeiro. Eu sempre fui um cara muito rítmico, sempre gostei mais de ritmo do que de melodia. As coisas rítmicas sempre me chamaram muita atenção. Eu gostei daquilo e eu e meus amigos começamos a ouvir aquela música no rádio. O cara falou o nome e a gente já ficou sabendo quem era. Depois, as informações começaram a chegar e a gente ficou sabendo que era um ritmo novo. A gente também já gostava de Bossa Nova, que estava surgindo na mesma época. A coisa foi evoluindo e eu ouvi um programa chamado “A Hora da Broadway”, na Rádio Metropolitana. Semanalmente, eles tinham uma hora de “make believe ballroom”: eram as 20 primeiras da parada americana. Eu comecei a ouvir Elvis, Chuck Berry, Fats Domino, Little Richard, Gene Vincent, The Coasters, The Platters e todo mundo. Daqui a pouco, começaram a chegar às revistas O Cruzeiro etc. Eu vi como caras como Elvis e Marlon Brando se vestiam. Aquilo foi me dando conhecimento também da imagem, além do som. Eu fui gostando daquilo e descobri que tinha toda uma geração também gostando daquilo. Aos poucos, a gente foi se aproximando cada vez mais da música e uns dos outros. E aí foi indo.
E daí para aquela turma da Rua do Matoso, como foi?
A Rua do Matoso tinha muita gente que tocava. Tinha o Antônio Pedro, que hoje em dia fabrica e conserta guitarras; Jorge Ben, eu e Tim. Éramos os quatro lá da esquina, tocávamos sempre de noite e de madrugada. A gente ia preso, porque os vizinhos reclamavam daquele barulho conhecido como “serenata de rock”. O delegado apreendia o nosso violão por dois dias e as menininhas também já gostavam da hora do rock’n’roll. A gente dançava homem com homem, porque as meninas ainda não sabiam dançar direito e ficavam com vergonha. A gente dançava, um pulava por cima do outro. Aí foi indo a coisa, foi uma transição maravilhosa.
E o Roberto Carlos?
Ele não era da turma da Rua do Matoso. Depois é que um amigo em comum nos apresentou. Ele foi lá em casa um dia, apanhar a letra de uma música que ele ia cantar no pré-show do Bill Haley no Maracanazinho. Ele cantava no “Clube do Rock”, que era um programa do Carlos Imperial no qual se apresentavam ele, Simonal, Édson (hoje membro de Os Cariocas) etc. Ele pegou Hound Dog , do Elvis, pra ele cantar no pré-show. Começamos a bater papo. Eu tinha um violão de cravilha de pau, que a minha avó tinha me dado. Eu pedi para ele afinar, pois – além de não saber afinar – eu também não sabia tocar. Ele afinou, tocou e eu vi que o meu violão tocava. Ele foi embora e me fez um “convite maldito”: “Aparece lá pela televisão, que o pessoal é legal…” Pra quê, esse convite mudou a minha vida, bicho! (risos) O programa rolava toda terça-feira ao meio dia.
Como era o som que você tirava com o pessoal da Tijuca, até aquele momento?
Só músicas americanas. Quando comecei a ir à TV, conheci o Carlos Imperial e os outros. Além das dançarinas, uma das quais eu fui logo começando a namorar. Eu sempre me prontificava a comprar sanduíche para o diretor. Eu fui ficando amigo de todo mundo na TV Tupi, até o porteiro já me conhecia. Comecei a frequentar, enquanto na Tijuca a gente ia se aperfeiçoando. Até que chegou um dia em que o falecido Trindade me convidou: “Bicho, vamos fazer um conjunto vocal?” Eu disse: “Pô, conjunto vocal, como é que é?” Eu assobiava, cantarolava coisas pela rua e tal. Formamos os Snakes – Arlênio, hoje em dia DJ da Rádio Nacional; Trindade, falecido; e o China, também falecido. Éramos quatro. Começamos a ensaiar músicas, mas ninguém tocava violão. A gente botava o disco pra tocar e ficava ensaiando em cima. A gente sempre precisava de um cara pra nos acompanhar. O Roberto estudava no Colégio Ultra, na Praça da Bandeira, e eu também estudava datilografia lá. O Roberto conhecia o Tim e o Tim convidou o Roberto para fazer um conjunto vocal: os Sputniks. Eles fizeram um grupo: Roberto, Tim, Wellington e um outro cujo nome eu não me lembro. O Roberto brigou com o Tim não-sei-lá-porquê e saiu pra carreira amadora solo. E o Tim também, carreira amadora solo. E aí eles começaram a chamar os Snakes para acompanhá-los em shows. Eles acompanhavam a gente no violão, enquanto a gente fazia vocal pra eles. O Roberto era o Elvis Presley brasileiro e o Tim era o Little Richard brasileiro. A gente fazia o show assim, eles acompanhavam a gente na hora dos números deles. Aos poucos, a gente também foi sentindo a necessidade de cantar as nossas próprias músicas. Então a gente queria abrir, para depois acompanhar o Roberto e o Tim. Mas eles não queriam acompanhar a gente, porque senão eles teriam que entrar junto com a gente. Ia queimar a atração. Eles botavam um microfone na coxia e nos acompanhavam de lá. Eu vim sentindo necessidade, o Tim Maia me ensinou os três primeiros acordes – lá maior, ré e mi – e eu descobri que com eles eu podia acompanhar um monte de músicas. Comecei a treinar a batida e daqui a pouco já estava acompanhando os Snakes. Em seguida, a gente já pode abrir para eles de verdade. Aí começamos a fazer televisão, por volta de 1959 ou início de 1960. Mas aí os Snakes terminaram.
Mas vocês gravaram!
Ah sim, primeiramente gravamos quatro músicas de carnaval. Eu não tenho referência desse disco. Antigamente, o meio artístico tinha muita coisa marginalizada. Vendia-se música. E tinha muito trambique, também. Tinha um comerciante – desses comerciantes vaidosos -, cujo sonho era gravar um disco. Ele pegou um cara pra gravar um disco pra ele. Eu me lembro desse disco que a gente gravou. Bicho, o cara não tinha a mínima noção de nada. Ele tinha um bigodinho, baixinho e gordinho. Ele chegou e fomos gravar num estudiozinho de acetato na Esplanada dos Ministérios. O compositor J. Piedade é que nos levou pra lá. Gravamos os vocais das quatro músicas de carnaval. Ele não sabia entrar, ficava olhando – nervoso pra caramba. Bicho, fora do tom. O produtor tomou uma grana do cara. Deve ter prensado umas 1.000 cópias e pronto. Enrolou o cara, dando os 1.000 discos para que ele distribuísse entre os amigos e parentes. E combinou com algum amigo de uma daquelas rádios de Nilópolis ou de Duque de Caxias, para que a música tocasse numa determinada hora. Ia então pra casa do “cantor” e, como quem não queria nada, disse: “Puxa, vou ligar o rádio pra ver se a gente ouve a sua música”. Como estava combinado, de repente começava: “Tá ouvindo? É sucesso! Bicho, tá tocando no rádio! Precisamos prensar mais tantos discos! Eu preciso de tanto!” Ah cara, era muito escroto.
Então esta é a história do seu primeiro disco?
É, mas eu nem me lembro o nome do intérprete. Quem sabe o nome dele é o Arlênio. Depois disso, nós gravamos pela Mocambo. Era Mustafá , música que estava fazendo sucesso na época; e Forever , versão de Paulo Murillo para uma música que depois o Roberto também gravou, já em versão de Carlos Imperial. Naquela época, a gente tinha a pretensão de disputar com os Golden Boys, sabe? Eles passavam e a gente cochichava: “Hum, lá vem eles! Lá vem eles! Finge que não vê, finge que não vê”. Depois gravamos um compacto duplo, antes de sairmos de lá. Fomos para a CBS e lá gravamos um LP de twist. Chubby Checker estava estourado. A CBS não tinha referência alguma de twist, criando então o negócio – chamando o falecido maestro Astor, colocando umas músicas meio conga. Aquilo era twist pra eles! (risos) Baixo de pau, ainda! Eu cantava Chuby Checker, o China cantava Runaway (do Dion). Mas aí acabou a carreira dos Snakes e eu comecei a trabalhar com o Imperial por um tempo. De repente, Ed Wilson saiu do Renato e seus Blue Caps e seu lugar de crooner e violão base ficou vago. Eu tava ali e me sugeri. Entrei para o Renato, muito embora eu já tivesse participado de seu primeiro LP – “Twist” – com a música Eu Quero Twist , minha primeira a ser gravada (em parceria com Carlos Imperial). Reynaldo Rayol cantou. Eu fiquei um ano e meio como membro do Renato e, ao mesmo tempo, como secretário do Imperial.
Já que estamos falando do Imperial, talvez seja um momento para falarmos dele. As pessoas não têm dimensão de sua importância, talvez em função da imagem que ele cultivou nos últimos anos de sua vida.
Bicho, ele quis fazer de tudo. Ele foi uma pessoa importante, não só para o movimento do rock’n’roll no Brasil como para todos nós, individualmente. Ele foi uma pessoa muito importante. Ele curtia isso: um pouquinho disso, um pouquinho daquilo.
A imagem pública dele não era de carismático.
Ele gostava de manter-se assim, né?
Ele poderia representar para a Jovem Guarda e para o movimento do rock’n’roll brasileiro o mesmo que Ronaldo Bôscoli representa para a Bossa Nova?
Poderia, poderia. Quando ele morreu, eu escrevi um artigo para a “Manchete”. Eu fiquei pensando e o apelidei de agitador cultural. Ele agitava mesmo. Produtor de filme pornográfico, compositor, ator, produtor, político… Antes de morrer, ele estava atrás de mim… porque ele havia feito uma música para a Zélia e para o Collor. Bicho, a música tinha um monte de palavrões! (risos) Ele queria que eu a gravasse, bicho! (risos) Ele herdou uma casa aqui no Recreio e fazia festas. A casa vivia cheia de mulheres, o dia inteiro, e ele então criou um clube – o “Clube dos Machos Brasileiros”! (risos) Então ele vivia atrás de mim, bicho, pra eu gravar a música e pra ir na reunião do clube dele. Porque a diretoria era formada por ele e pelo Jece Valadão… (risos) Ele pegou todos os machões e os colocou na diretoria. Ele levou o SBT até lá, pra fazer uma reportagem com as mulheres nuas na piscina. Ele fazia questão, combinava de as mulheres virem lhe servir whisky. Só pra fazer agito. E ele queria que eu gravasse a música e eu não queria. Cheia de palavrões. Na cabeça dele, ele estava certo. Sabe o quê ele fez? Começou a botar nota no jornal. O nome da música, ele começou a botar: “Aguardem a música tal…”
E ninguém gravou?
Ele morreu e ninguém gravou.
Pôxa, nesta época de Raimundos e Mamonas, de repente…
Ele ligava pra mim e falava coisas assim: “Erasmo, bicho, a gente tem que fazer alguma coisa, tá tudo muito parado, temos que fazer alguma coisa e é importante que você venha à reunião que vamos fazer aqui no sábado”. (risos) “Bicho, você tem que ter uma postura, você tem que bolar alguma coisa, todos nós aqui temos postura!” (risos) “Quando eu chego na sala, as mulheres estão todas nuas e eu dou logo um chega-prá-lá: ‘a mulher é inferior ao homem, tanto é que Deus a fez tendo que mijar sentada’! (risos) “E homem mija em pé, então que fique bem claro que a mulher é humilde!” Eu ouvia aquilo e dizia: “Então tá, bicho, sábado eu tô aí!”. E no sábado eu não ia, e ele me ligava na segunda: “Pô, você furou, foi tão bom!” Era muito engraçado.
Bom, voltemos aos velhos tempos.
Pois bem, enquanto os Snakes foram trilhando pela Mocambo, Roberto fez os 78 da Polydor e da CBS, antes do primeiro LP pela própria CBS. Aí veio Malena , para a qual contribuímos com os vocais. Depois ele gravou Suzie , ocasião em que eu havia feito a versão de Splish Splash . Foi aí que a gente descobriu que tinha a mesma sintonia, resolvendo fazer a primeira música junto: Parei Na Contramão .
Como foi a experiência com o Renato e seus Blue Caps?
Fiquei lá por um ano e meio. Gravamos um LP pela Copacabana. Nos shows, fazíamos bailes com rodadas de bolero e de rock. Quando eles foram gravar “Viva A Juventude”, pela CBS, na verdade eu já não estava mais com eles. Eu canto Menina Linda com eles, além de Gatinha Manhosa. E eles acabaram participando do meu disco, pois aí eu já tinha sido contratado pela RGE. Meu primeiro disco solo é com Renato e seus Blue Caps me acompanhando.
Àquela altura, já estava rolando o sucesso de sua parceria com o Roberto. Por quê você foi para a RGE, se a nata da galera estava na CBS?
Porque foi a RGE que me quis!
Pôxa, você já tinha um pé lá dentro!
Mas ninguém me quis! O falecido Evandro Ribeiro, que mais tarde viria a se tornar um grande amigo meu, ele disse na minha cara: “Você não interessa à companhia porque nós já temos Roberto Carlos – Não precisamos de um cantor que cante o mesmo estilo”.
É o que acontece até hoje. Ninguém vai querer na mesma companhia quem cante igual. Você se satisfez com a sua carreira na RGE?
Claro. Na época, a RGE era grande – tinha Chico Buarque, Maysa e um monte de outros. Era igual às outras. Me davam todo o apoio, sempre me deram.
Você foi o primeiro artista voltado para a juventude, no cast da RGE.
Mas foi justamente neste gancho que eu entrei. Porque eu fui a um monte de gravadoras. A CBS não me quis, a RCA Victor não me quis, a Odeon não me quis. Todas já tinham alguém. Eu fui à RGE.
E o primeiro trabalho? Como é que foi?
Benil Santos tomava conta no Rio e o Raul Sampaio, em São Paulo. Eles estavam estouradíssimos, como compositores. Levei o disco do Renato como referência. Eles disseram: “Você caiu do céu, rapaz. Nós realmente temos pensado muito nisso, porque não temos um cantor nessa linha de rock e você nos serve muito bem. Além de você saber do que se trata, você já tem acesso à turma e às rádios”. Eu já conhecia todo mundo, dos corredores das rádios. Já tinha um ambiente, já tinha acesso ao meio. Isso interessou à RGE e eles me contrataram. Foi aí que começou Erasmo Carlos.
O primeiro disco fez sucesso?
Não. O primeiro disco foi o compacto Terror dos Namorados e não fez sucesso. No lado B, Jacaré – um surf da época. A capa era ridícula. Na época, o Brasil não tinha acesso às pranchas de surf que vinham nas capas dos LPs dos Beach Boys. Eu queria ter uma capa daquelas. Então eu peguei uma tábua de jacaré, bem pequenina, e fui até a arrebentação. Nem onda peguei, fiquei bem perto da areia! (risos) O fotógrafo chegou junto e tirou a foto. O pior é que eu adoro o meu primeiro disco. Pra época, Jacaré é uma puta gravação. O segundo disco eu já gravei em São Paulo, foi um LP inteiro. Aliás, a capa que eu bolei para o LP “A Pescaria”, que acabou saindo comigo pescando de chapéu, ia ser diferente. O Getúlio Côrtes havia feito uma música para o disco chamada Tom & Jerry . Seria eu pescando com o Tom ao meu lado, também pescando. Nos baldes, sem peixe algum. E o Jerry estaria do outro lado, com o balde cheio de peixe. A gente, com a capa de puto da vida, e ele sorrindo. Eu fui até a MGM, pra pedir autorização para usar os personagens. Aí eu caí na asneira de dizer: “O Sr. sabe, eu estou fazendo isso porque eu acho que é uma grande promoção para os personagens!” (risos) Aí o cara chegou e disse: “Olha, você me desculpe, mas eu acho que a promoção vai ser pra você… porque Tom & Jerry são Tom & Jerry”!
Você acha que tinha espaço para a surf music no Brasil?
Bicho, não colou porque nós não tínhamos pranchas! (risos) Tinha a música, tinha o mar… mas não tinha a prancha! (risos) Depois, é que nego começou… no final dos anos 60, quando nego começou a fazer prancha sob encomenda.
Qual foi o efeito dos Beatles? Seu segundo disco já veio com a música Beatlemania , que você fez com o Renato Barros.
Renato e Paulo César eram e são beatlemaníacos. A gente tinha informação vindo lá de fora. A gente começou a comprar roupas e a se produzir melhor. Eles serviram de modelo de roupa, com o terninho de quatro botões e botinhas. Até de cabelo, também, mas nem todo mundo podia ter! (risos) Mas começou aquele negócio, com as informações de estouro na Inglaterra e nos Estados Unidos. Uma coisa é certa: a nossa influência não era Beatles, era rock’n’roll. Como a deles, também. A gente era contemporâneo dos Beatles, mas o caso é que eles nos influenciaram em termos de roupa e talvez até de postura. Porque a gente também começou a imitá-los nas entrevistas, já que a gente gostou da alienação deles. A gente era assumidamente alienado, então a gente dava umas respostas desconcertantes para os jornalistas. Tipo assim: “O quê você acha da guerra do Vietnã?” “Ué, tem guerra no Vietnã, bicho? Pô, não disseram nada pra gente!” Era tudo influência deles.
E em termos musicais?
Não houve, tanto assim que você vê. O que eu bolei para a letra de Beatlemania – que é minha, enquanto a música é do Renato -, mostra que a minha preocupação era a mulherada. Eu falo isso, porque a mulherada não queria saber mais de mim. Nem de mim e nem dos meus amigos. Elas só queriam saber dos Beatles. Então, na letra eu dou um chega-prá-lá neles: “Vão prá lá, procurem sua turma lá, a mulherada daqui é da gente!” Então aí, pô, eu fui num programa cheio de experts em rock’n’roll. Era o dia dos Beatles. Fui lançar meu disco lá. Hum, bicho, o estúdio estava lotado. Abriu o elevador e tinha mulher pra caramba. Elas ocupavam o estúdio, o corredor e o saguão. Parecia Maracanã! Quando o cara falou da música, eu quase apanhei. Era olhar de desprezo e de ódio. Quando o cara tocou, recebi vaias: “Vou acabar/ Com a beatlemania…” (risos) Ouve só a letra: “Vou acabar com a beatlemania/ Que atacou o meu bem/ É a ordem do dia/ Cabelo comprido nunca foi prova de ser mal/ Se eu não puder na mão/ Eu brigo até de pau/ Pode vir todos quatro/ Que eu não temo ninguém/ Só não quero que fiquem/ Alucinando meu bem/ Tenham calma, amigos/ A paz vai voltar/ Pois com a beatlemania/ Eu prometo acabar…” (risos) E com a levadinha deles! Escapei vivo.
Por causa do título, todo mundo achava que era mais uma apologia. Mas era exatamente o contrário. Agora, a beatlemania e todo aquele esquema de comoção e de manipulação dos fãs poderia ter influenciado a turma que vinha trabalhando e que mais tarde viria a ser oficializada como Jovem Guarda, em 1965? Todo aquele bafafá da beatlemania teria servido de modelo para que toda aquela histeria fosse repetida no Brasil?
Bicho, olha, da nossa parte, não. A gente apenas seguiu fazendo o que a gente sabia fazer. Pode ser que, em termos de cúpula de televisão, de repente tenha acontecido. Os caras podem ter se tocado de que de repente poderiam fazer aquilo acontecer por aqui.
Mas a questão estética, à qual você se referiu, também deve ter contribuído.
E a própria juventude foi tomando conhecimento da coisa que estava rolando, querendo então fazer igual. Se você vai ver um show do Planet Hemp hoje, os caras se jogam do palco em cima do público – aquela coisa de ficar jogando o cara de um lado para o outro. Isso não foi criado aqui, eles viram isso na televisão, os caras fazendo isso nos shows punk lá de não sei onde. Então todo mundo copia – a juventude do mundo inteiro, bicho. Quem dita as coisas são os americanos e os ingleses. O que eles fazem lá pode demorar, mas acaba pintando por aqui. Antigamente, um disco saía lá nos Estados Unidos e demorava dois anos para chegar aqui. Hoje o lançamento é simultâneo. A juventude assimila tudo.
Mas esse atraso dos lançamentos também contribuiu bastante para a Jovem Guarda, pois aí o pessoal fazia versão e estourava antes do original.
Muitas vezes, muitas vezes. A Jovem Guarda também favoreceu muito os originais, que chegaram aqui já populares. Foi favorável para os dois lados, portanto. Eu só fiz versão de uma música dos Beatles: Things We Said Today . “Olha que boneca/ que por aqui vai passar/ Talvez até quem sabe/ Corresponda o meu olhar”. E depois o Roberto gravou And I Love Her .
Praticamente todos os nomes da Jovem Guarda gravaram uma versão dos Beatles, menos Roberto e Erasmo. Roberto pode gravado nos anos 80, mas isso não é Jovem Guarda.
Mas isso é porque a gente sempre se ligou mais nos americanos do que nos ingleses. Sempre, até hoje a gente se liga muito nos americanos. Os ingleses vêm em segundo plano pra gente, sinceramente. Pode ter um monte de coisa legal, mas a gente sempre foi ligado no rock americano, sabe? Inclusive, o rock inglês só começou mesmo depois dos Beatles, saindo da Inglaterra. Depois, até que veio Dave Clark Five, Herman’s Hermits, Gerry & The Pacemakers e um monte de gente.
E com relação ao Brasil: Jovem Guarda e Tropicalismo. Como era a relação dos tropicalistas com a Jovem Guarda na época? Havia algum tipo de preconceito?
Nada. Não teve a mínima coisa. Sempre foi uma amizade, que já surgiu com um sorriso de ambas as partes. Bom, da nossa parte nunca houve inimizade com ninguém.
Sim, mas existia uma coisa na imprensa…
A imprensa sempre teve essa de que os cabeludos estavam estragando a música brasileira. Aí nós recebemos a Velha Guarda de braços abertos em nosso programa: Cyro Monteiro, Elizeth Cardoso, Ângela Maria, Cauby Peixoto, Sílvio Caldas e todo mundo. Os aplausos eram lindos, maravilhosos. Nunca teve vaia pra ninguém no programa da Jovem Guarda. Agora, quando saiu a Linha Dura do Samba – aí, sim -, eles não gostavam da gente. Elis Regina e Geraldo Vandré não gostavam da gente. Eles cobravam postura política da Jovem Guarda, achavam desperdício todo aquele cartaz e toda aquela fama, sem nenhuma contribuição política. Eles não gostavam da gente por isso. Não sei musicalmente.
Também nunca se discutiu a parte musical com eles.
É, nunca se discutiu, né bicho? Agora, quando o Tropicalismo chegou, não.
Mas também não existia contato! Não pode existir atrito onde não existe contato!
Existia, existia porque a gente era contratado da mesma estação e tinha que se esbarrar nos corredores. Nas gravadoras, até que não. Mas no programa tinha, porque a Record tinha o “Show do Dia 7”, no qual todo mundo se misturava; e tinha a entrega do prêmio Roquete Pinto, em que todo mundo se misturava. Então tinha que bater de frente.
Tanto é que Caetano Veloso gravou com Ronnie Von, né? (risos) Mas, por outro lado, Ronnie Von não era considerado pertencente à Jovem Guarda!
Conta a história que foi Maria Bethânia quem chegou pra Caetano e disse: “Você precisa ouvir esses meninos com mais atenção! Precisa ouvir direitinho, porque eles estão dizendo coisas importantes! É só ouvir com mais carinho!” É o que diz a história. Outro dia eu até li uma matéria sobre isso. Daqui a pouco, era Nara Leão e depois Silvinha Telles, que foi a primeira a assumir mesmo, cantando Não Quero Ver Você Triste num teatro. No teatro, bicho. Foi vaiada à beça, mas assumiu. Todo mundo ia no programa de todo mundo, porque tinha contrato e tinha que ir.
Mas Ronnie Von não ia ao programa do Roberto.
Ia, teve que ir. Aquilo era folclore, mais coisa de gravadora do que qualquer outra coisa.
Depois de tantos revivals, vale a pena abrir uma discussão. Até no próprio disco quíntuplo dos 30 anos, perdeu-se a noção de quem pertenceu à Jovem Guarda e quem não pertenceu.
Você está certo. Hoje em dia todo mundo é o pai da noiva! (risos)
Você tem noção? Até Agnaldo Timóteo já disse que pertenceu à Jovem Guarda! (risos)
Olha, bicho. Por aí você tira a conclusão. Ronnie Von tinha um programa dele. Isso partindo-se do princípio de que Jovem Guarda era o “Programa Jovem Guarda”. Agora, se a Jovem Guarda saiu do programa e virou o nome de um movimento, eu concordo com a participação de todos… porque eles estão se referindo ao movimento, já que o nome ficou forte para definir o movimento de todos. Agora, o programa tinha mais ou menos seus titulares. Porque o Ronnie Von tinha o programa dele e o Eduardo Araújo tinha o dele, na Excelsior!
E aí, qual é o critério? Pelo programa, restringe. Wanderley Cardoso não seria, porque ele nunca participou do programa.
Pelo movimento, que reúne todo mundo.
E quem é esse todo mundo? Esse é que é o problema.
Por exemplo, todo mundo que está naquele CD.
Mas faltou gente.
Tudo bem, faltou Demétrius. Ele não canta mais, desde que perdeu o filho.
E teve gente que cantou ali e que não era Jovem Guarda. Carlos Gonzaga não era Jovem Guarda de jeito algum, enquanto um cara como o falecido Paulo Sérgio teria muito mais a ver.
Mas ele veio muito depois do término da Jovem Guarda.
É, mas eu já peguei coletânea de Jovem Guarda com faixas de Reginaldo Rossi, Cláudia Telles, Odair José e José Roberto!
Mas aí é aproveitamento de faixa. Todo mundo do movimento está no CD da PolyGram, pra sintetizar.
Por quê você saiu da RGE?
Porque acabou a Jovem Guarda e aí mudou tudo, né bicho?
E por quê a Jovem Guarda acabou?
Porque não dava mais IBOPE!
E a música? Estava atrelada ao programa? O rock não podia continuar?
O Tropicalismo já estava chegando, junto com novas propostas. Havia outros interesses comerciais, desmembrando todo mundo. Já não era mais a mesma coisa.
Você falou em desmembramento. No comecinho, em 1965/1966, todo mundo dava força pra todo mundo, não dava?
Dava, sempre foi assim.
E quando cada um tendo seu próprio nome – com repertórios, shows e filmes próprios? Continuaram dando força, uns aos outros?
Não, porque aí todo mundo foi se desmembrando.
Não terá sido essa uma das grandes forças para o movimento (e não o programa) ter terminado?
Não, eu acho que foi mesmo uma questão de saturação.
Tudo bem. A Jovem Guarda acabou mas o Roberto é o rei da juventude até hoje.
Ele é rei, mas não da juventude.
Isso foi mudando, como tempo? Ele continua rei, mas não mais da juventude? Se mudaram, não nos avisaram! (risos) Por quê não se dá mais títulos como antigamente?
Porque acabaram-se os títulos! (risos) Porra, rei já tem. Príncipe, também. A rainha é a dos baixinhos. Então, acabaram-se os títulos… A não ser que vá descendo na hierarquia: o cabo da juventude, o sargento disso e o ditador daquilo.
Por quê rolou uma época em que você e o Roberto pararam com a parceria, em 1967?
Porque a gente brigou.
Foi lance de trabalho?
Foi negócio de ciúme, bicho. Foi fofoca de empresário, sabe? Eu fiz um programa do Simonal – “Alegria Alegria”, com ele e o Som Três. Eles me homenagearam um dia e eu cantei um pot-porri com várias músicas de Roberto & Erasmo que tinham feito sucesso. Durante falou – nem antes, nem durante e nem depois do programa – que aquelas músicas também eram do Roberto. Simonal me apresentou, eu cheguei e cantei. Ninguém falou – nem eu, nem ele – que as músicas também eram do Roberto. Hoje em dia, se não falar não falou e pronto. Mas naquela época, não. Ainda tinha esse negócio: “Pô, não falou o teu nome – tá querendo te comer, rapaz! Abre o olho, rapaz!” Fofocaram. O Roberto nem viu esse programa, ele estava aqui no Rio e o programa foi em São Paulo. Ligaram pra ele, bicho, e fizeram um fofocada: “Bicho, você não sabe o que é que aconteceu! Você tem que tomar uma providência! Fizeram um programa, o Erasmo cantou lá e ninguém, em momento nenhum falou que as músicas eram suas!” Fizeram a cabeça dele e ele aí ficou brabo. Ficamos fazendo o programa juntos, embora não nos falássemos. Seguíamos o texto, tudo bem, mas quando acabava a gente não se falava. Ficamos um ano assim.
É por isso que “Em Ritmo de Aventura” não tem nenhuma música sua?
É, porque a gente estava brigado. Inclusive, eu não quis participar da cena final. Todo mundo junto, final de Jovem Guarda era sempre igual: cantando Quero Que Vá Tudo Pro Inferno . O final era sempre esse. Eu não entrei, mas quando chegou na hora de fazer as músicas para um filme, um dia eu recebi uma fita de rolo que ele havia mandado me entregar. Estava escrito: “Ô bicho, eu não tô mais zangado com você”. Quando ele briga por alguma coisa, ele sempre fala isso. Mesmo que ele tenha culpa, ele diz: “Eu já te perdoei!” (risos) “Não tou mais com raiva de você!” Então ele veio: “Sabe o quê é que é? É que eu comecei a fazer uma música e estava pensando que é o tipo de música que você faz em 10 minutos! Faz essa letra pra mim, que eu queria incluir no filme que eu estou fazendo!” Aí era Eu Sou Terrível . Eu fiz a letra e mandei. Ele gravou e é a única música minha que entrou no filme. Aí nós voltamos com a parceria, fazendo Eu Te Amo Te Amo Te Amo , que saiu antes mas que foi feita depois de Eu Sou Terrível . Eles ficaram esperando o filme sair para lançar o LP “Em Ritmo de Aventura”, enquanto Eu Te Amo saiu em “As 14 Mais”. Viu como eu me lembro? Como diz minha mãe: “Tá pensando que eu estou maluca?”
Aquele tipo de intriga que acabou por separar vocês por um ano nunca mais rolou?
Não, graças a Deus. Hoje em dia, a gente ri disso. Ele fala: “Como é que eu pude me deixar envolver por fofocas?” Hoje em dia, se um cara chega e me diz: “Bicho, você não sabe o que o Roberto Carlos falou de você”, eu digo: “Bicho, é mentira! Eu nem sei o que é, mas é mentira!”. É a mesma coisa.
Bem, nós estávamos falando sobre as razões da sua troca de gravadora no final da Jovem Guarda.
O Chico Buarque veio para a PolyGram etc, então comecei a ficar lá sozinho. Os caras começaram a me oferecer um monte de coisa pra eu ficar, mas aí eu já estava começando a querer voltar para o Rio. Eu ouvi Aquele Abraço e me deu uma saudade, bicho. Meus amigos, minha família, eu já havia cumprido meu ciclo de 7 anos ali. Eu já estava namorando Nara e tudo mais. Edmundo: já estava querendo voltar pro Rio. Não tinha mais motivação nenhuma, minhas turmas de bagunça encaravam noites vazias. Aí o João Araújo estava assumindo a RGE, lá em São Paulo. Ele foi almoçar lá em casa e veio com uma ótima proposta. Eles iam fazer um monte de coisas, inclusive incrementando a minha vida fora do Brasil. Mas o Nelson Motta também já estava falando comigo, querendo que eu conhecesse o André Midani na PolyGram. Ele queria que eu fosse conversar com ele. Então eu falei com o João que não dava, citando uma coisa profética: “Se eu disser ‘sim’ e ficar na RGE, tudo bem; e, se daqui a um ano ou dois, você sair da RGE e entrar um cara que eu não conheça?” Então eu vim pro Rio, me encontrando com o André Midani e o Nélson Motta lá no Hotel Excelsior. Não deu três meses e o João Araújo saiu da RGE, vindo assumir a Som Livre aqui no Rio. Inclusive, tempos depois a Som Livre viria a comprar a RGE. Se eu tivesse ficado, em três meses eu taria enfrentando problemas. Então eu vim para cá e o André Midani me disse uma das coisas mais lindas, coisa que eu gostaria que me dissessem sempre mas que nunca mais me disseram: “Eu quero você na gravadora para você sempre fazer o que você quiser”. Ele me citou três pessoas: “Caetano Veloso, Jorge Ben e você são pessoas imprevisíveis – vocês podem fazer um samba hoje e amanhã outra coisa; hoje fazer uma letra engraçada e amanhã não; então nós precisamos de artistas criativos”. Nunca mais me disseram nada parecido. Hoje em dia, é só: “Nós temos um projeto: que tal você gravar fulano-de-tal? Pô, todo mundo aqui comprou a idéia!”. Eu até respondo: “Mas eu não tenho afinidade nenhuma com isso!”. Eles respondem: “Não faz mal, a mídia e o marketing arrumam isso!”
Isso é um caso concreto? Isso já te aconteceu?
Todo mundo passa por isso, hoje em dia. As coisas mudaram, bicho, em todos os setores. Antigamente, o bom do filme era o artista. Agora é o efeito especial. A rádio vive de música, mas o bom é o programador. Na imprensa, o jornalista manda e desmanda na vida das pessoas e ninguém pode falar nada. Quando fala, eles são muito unidos. Você pode levar 30 anos para construir uma vida. Se eles quiserem, eles te arrasam em 24 horas. E gravadora não pode ficar de fora disso. Os caras é que mandam lá. O artista é o executor da idéia.
Será que o marketing fala mais alto? A evolução do marketing dentro de qualquer empresa acarretou mudanças radicais.
Mudou muito. A música é descartável, tem que rolar renovação a todo instante. Nas sedes das gravadoras lá de fora, os caras não querem saber o nome dos artistas; eles querem ver os números e saber do lucro. Se na Argentina vendeu mais, manda o gerente embora. Se é por contenção de despesa, manda 20% do pessoal embora. Eu estive almoçando com um cara outro dia. Quando eles se reúnem lá fora e ouvem que o faturamento precisa ser de 20 milhões, aquilo bate como um tremendo “se vira”. O cara vai pra casa e não dorme. Como é que ele vai fazer? Fica sem dormir, no dia seguinte resolve relançar produto e a fazer um monte de coisa.
Bem, voltemos ao seu retorno ao Rio de Janeiro e ao início de sua carreira na PolyGram.
Nesta época da minha época, rolaram mudanças radicais. Foram três as coisas importantíssimas que me aconteceram. A primeira foi eu ter mudado de estado, com a volta para o Rio de Janeiro. A segunda foi eu ter me casado e a terceira foi eu ter mudado de gravadora. Então tudo isso me deu o equilíbrio necessário, sem o qual estava. Morava no Leme, acordava de frente pro mar. Minha mulherzinha estava lá comigo, montando o apartamento e vivendo aquela vidinha de casado. Eu parei com a boataria toda de bebedeira todas as noites. Aos poucos, eu fui recuperando o meu equilíbrio… para poder trabalhar, entende? Então, logicamente que essa nova fase me abriu novos horizontes. Comecei a transar com pessoas que eu não transava antes, porque eu não tava transando com ninguém; porque lá em São Paulo, com o fim da Jovem Guarda, meus amigos passaram a ser pessoas que não eram músicos. Eu não tinha mais contato com colegas. Aqui no Rio, não, eu comecei a conviver com os tropicalistas e com o pessoal da soul music – Tim, Cassiano e Hyldon. Viajei e comecei a ver shows: Frank Zappa, J-Geils Band, James Brown e Elvis. Comecei a viver outro tipo de coisas, que eu tinha esquecido ou que nunca tinha vivido. Aí minha cabeça foi mudando.
Mas o último disco da RGE já refletia essa mudança, com a gravação de músicas de Caetano e de Lamartine Babo.
Eu já estava com um pezinho aqui no Rio de Janeiro e já queria abrir para outras coisas. Você vê, eu gravei Saudosismo , gravei Aquarela do Brasil e Coqueiro Verde . Quando eu mostrei Coqueiro Verde para o Sérgio Cabral, na boate Sucata – no dia daquele show polêmico da Gal, acompanhada por A Bolha -, a casa ainda estava vazia e o DJ a colocou para tocar. O Sérgio disse: “É um novo Aquele Abraço !”. Minha vida foi mudando, bicho. Eu já estava com um pé no Rio de Janeiro, quando fiz aquele disco.
E o “Sambalanço”, aquele LP de misturas que você gravou com o Renato e que não aconteceu?
Foi apenas um LP, com produção de Jairo Pires e a banda do Renato. Luiz Carlos Ismail cantou e tinha músicas do Dalmo e minhas. Inclusive, eu toquei violão nesse disco. Foram pouquíssimos os discos em que eu toquei violão! Claro, minha técnica é tão apurada que eu sou proibido pelos sindicato mundial dos músicos a fazer uma execução! (risos) Eu sou proibido e é por isso que eu toco.
Mas nesse disco você toca… e ninguém sabe disso. Tudo bem, então lá estava você – de frente pro mar, vidinha nova etc. Mas você nunca largou o rock’n’roll, né?
Não, eu não o larguei. Mas eu também não sou só roqueiro, eu acho que sou compositor. Se eu quiser um tango ou um samba, eu faço. Eu não gosto desse negócio de só ter que fazer rock. Por exemplo, agora mesmo teve esta peça infantil – para a qual eu fiz as músicas: “A História da Dona Baratinha”. Tem o Rock do Porco , que é bem heavy mesmo: “Eu dou pum/ Não escovo os dentes/ Não corto a unha/ que é pra tirar meleca”. Coisas bem assim, entendeu? É pra criança, imagina se fosse pra adulto. Depois tem uma seresta. No final, rola um dance – um tremendo bate-estaca.
Por falar em tremendo, você ainda é “O Tremendão”?
Sou. É uma dádiva de Deus você ter um apelido nacional, rapaz…
Desde que não seja pejorativo!
Exatamente! Que não seja o Bráulio. Como eu não fui universitário, eu não fui comunista. Então, só em 1970 é que eu peguei o efeito retardado. Virei comunista, depois de socialista. Então era essa a minha fase de rebeldia, não querendo “Dia das Mães”: “Que nada, é apenas um dia comercial! Não tem porra nenhuma, não vou dar presente nenhum pra minha mãe!” Só que o meu filho trazia da escola um presentinho feito por ele, todo colado com negócio de isopor e de ovo! (risos) Aquilo me batia e eu acabei desistindo dessas idéias. Eu reneguei o apelido: “E tem outra coisa, hein! Tem mais! Não quero mais ser chamado de Tremendão! Não sou Tremendão porra nenhuma!” Eu chegava nas ruas e as pessoas não sabiam de nada, né? “Fala, Tremendão!” Eu não olhava, ficava calado. “Tremendão, Tremendão!” Eu não olhava, ficava quieto. E eu fui adiante com essa postura, mas fui vencido por isso. Cheguei uma época que eu concluí: “Porra, mas que babaca que eu sou, rapaz!” Fiquei vendo: “Porra, Pelé, bicho! Que legal, o cara é conhecido no mundo inteiro! Por quê não ter um apelido? Que bom ter um apelido assim!” Então hoje em dia eu tenho um orgulho imenso desse apelido.
Então, mesmo que você faça um tango ou um samba, a sua conotação ainda é roqueira. Você falou que, quando a Jovem Guarda, você mudou de gravadora. Você encontrou dificuldade de realizar seu trabalho, longe daquele grupo, como muitos – que sumiram ou passaram algum tempo sem nada fazer?
É o que eu te disse. Fez parte de uma mudança geral da minha vida. Então foi me abrindo novos horizontes.
Mas e quanto às dificuldades, em termos de mercado ou de vendagem? Fluiu naturalmente?
Foi, foi fluindo. A única barreira pode ter sido em termos de vendagem.
O primeiro LP da PolyGram saiu via selo Philips, depois você passou para a Polydor.
Mas era a mesma coisa, só mudou o selo. A mesma sala, os mesmos diretores. “A mesma praça, o mesmo banco…”
Não é assim, não. A Philips tinha uma linha, enquanto a Polydor tinha uma outra. Era a mesma gravadora, com a mesma diretoria, mas o selo era diferente. Você foi da Philips para a Polydor e voltou para a fase roqueira.
Eu nem me lembro. Como pra mim era a mesma coisa, …
Mas o selo era diferente! Na Polydor, tinha Mutantes, Tim Maia, Ronnie Von etc. Por outro lado, a Philips era MPB: Chico, Jorge Ben, Elis Regina, Caetano, Gil, Gal, Maria Bethania etc. Não que tenham te tirado da Philips, mas o caso é este era mais MPB e o outro, mais pop. “Projeto Salvaterra” é um disco roqueiro pra cacete!
Era tudo em função de com quem eu andasse. Se eu conhecesse Paulinho da Viola e parasse numa roda de choro, daqui a um mês eu tava saindo com um chorinho! (risos)
Você teve problemas com a censura?
Não problemas de ter que ir lá, mas tive problemas de ver músicas censuradas.
Roque Santeiro , feita para uma trilha sonora, foi censurada.
É, mas antes eu fizera a trilha de O Bofe e ela passara todinha, sem problemas. A gente fez Roque Santeiro, a novela foi censurada e, quando finalmente foi ao ar, já veio com uma outra trilha sonora. Já não era mais Nelson Motta quem produzia. Tudo isso depende de gestão. Mudam as cabeças, entende?
Obviamente que a censura olhava mais para as músicas que você iria gravar do que quando eram as do Roberto. Tudo bem que vocês fossem parceiros, mas vocês já sabiam quem é que ia gravar.
Não exatamente . Amada Amante teve um verso censurado: “Depois que o amor se fez”. Cortaram esse verso e a gente teve que fazer uma outra coisa.
Mas e em termos políticos?
Teve essa, do Roque Santeiro . E teve Baby , cujo nome não era esse. Aquele foi o dia em que eu enganei a censura! (risos) No meu currículo, essa é uma coisa importante! Porque eu fiz uma música sobre o feminismo, dizendo que eu não tinha nada contra a mulher ser feminista. A mulher era atuante, participava de passeatas e tal. Mas às vezes eu queria fazer amor e ela não podia, porque ela tinha os compromissos feministas dela. Então eu pedia que pelo menos um dia ela deixasse os seus compromissos de lado, porque eu queria fazer amor com ela. Teoricamente, não tinha nada demais. Mas eles a censuraram. O nome da música era Pa Tu , porque tinha saído aquela música do Chico Anísio. A música foi censurada e não pôde sair no meu disco “Projeto Salvaterra”. Ela saiu e para o seu lugar eu fiz Bolas Azuis , rapidamente no estúdio. Então, o quê é que eu fiz? Eu soube que eles arquivavam as letras pelo título e que eram vários os censores. No final, dependia muito da mesa de quem caísse. Comecei a imaginar que dependia do estado de espírito do cara. Um critério discutível, sabe? Então eu mudei o nome para Baby e a mandei. Passou, mas aí saiu fora do disco. Saiu em compacto, fiz um clip para o “Fantástico” e tal. No outro lado, estava Negro Gato .
A mídia explora a parceria Roberto & Erasmo como sendo a versão brasileira de Lennon & McCartney. Só que todo mundo que a parceria deles funcionava quase que somente no papel. Foram pouquíssimas as músicas feitas pelos dois, a maior parte no comecinho da carreira. Depois, quem compunha era quem acabava cantando. As músicas de Roberto & Erasmo são sempre feitas por Roberto & Erasmo? Ou pode existir música feita pelo Roberto, praticamente sozinho, mas que guarda créditos a você ou vice-versa? Quem faz é quem grava? Ou às vezes você faz uma música e ele é quem grava ou vice-versa?
Eu posso dizer que sempre rola uma mudança de tratamento. Por exemplo, se você tivesse um amigo arquiteto e ele fizesse uma casa sozinho, apesar de vocês serem parceiros. Você chega na casa e sempre tem alguma coisa pra falar: “Pô, troca essa janela aqui”. Sabe, sempre tem uma coisinha pro cara dar uma mudança de tratamento. Às vezes a música está no passado e eu sugiro o presente, pois soa mais direto.
Entendi o que você quis dizer. Então muitas vezes pode acontecer de a música ser feita praticamente por um dos dois sozinho, com apenas um toque do outro. Esse que fez a grande parte da música é quem vai gravar? Ou muitas vezes você fez quase tudo, o Roberto só deu um toquinho e a levou para seu disco? Ou já aconteceu o inverso?
Já, já. No início, inclusive, acontecia muito isso. Que eu me lembre, uma música que eu fiz quase toda sozinho e que ele gravou é Eu Sou Fã do Monokini . Eu mostrei num ônibus da linha Lins-Urca. A gente tava em pé, não tinha lugar pra sentar…
Pô, ele já morava ali na Avenida Portugal? (risos)
Não, ele morava no Lins. Ele vinha do Lins e o ônibus passava por onde eu estava. Eu o pegava no meio do caminho, ali na Praça da Bandeira. Tinha uma padaria embaixo da casa dele, numa esquina. Quando ele saía, ele me ligava e dizia: “Tô saindo”. Eu saía da minha casa e ia pra Praça da Bandeira, parando em frente ao Colégio Ultra. Quando ele vinha, fazia sinal da janela e a gente ia junto pra TV Tupi, ali na Urca. Eu lhe mostrei e a participação dele foi mínima. E um outro exemplo é As Flores do Jardim da Nossa Casa .
E quanto ao contrário, uma música que ele fez e você gravou?
Bicho, eu me lembro desses exemplos. É Preciso Dar Um Jeito Meu Amigo . Pronto.
O processo de vocês comporem ainda é o mesmo?
Bicho, depende da necessidade que o momento exige. A gente já compôs pelo telefone, mil vezes ele já me assobiou lá de Nova Iorque. Eu boto no gravadorzinho, pra saber a melodia e criar a letra. Imoral, Ilegal e Engorda foi assim, feita pelo telefone. Ele assobiava a música, eu gravava a música, pegava e ouvia o tema. Daqui a pouco, a gente trocava idéia. Só ainda não fizemos por fax.
Nem pela Internet, pelo visto.
Futuramente, trabalharemos pela Internet.
Fale um pouco sobre “Erasmo Convida”.
Foi um “projeto”… (risos) Foi o primeiro projeto da “era dos projetos”… (risos) A gente tava numa de gravar um disco e foi almoçar com o Jairo e o Gutti, no Vice Rey. O Guti passou apenas três meses na PolyGram, daí termos almoçado e fechado a idéia naquele almoço. Saímos dali e cada um foi pra sua casa. Fiz uma relação e comecei a telefonar pras pessoas. Ninguém tinha feito um disco assim antes e ninguém acreditava. Quando viram Roberto Carlos, Maria Bethania, Tim Maia, Rita Lee, Gal Costa etc, disseram: “Pô, Erasmo tá maluco! Não vai dar! Ele não vai conseguir! Pode até conseguir alguns, mas…” Bicho, num dia eu levantei todo mundo. Cheguei lá no dia seguinte e entreguei a lista de ok’s.
Quem escolheu as músicas para o dueto?
Alguns escolheram, outros a sugestão foi nossa. Rita Lee, foi ela quem escolheu Minha Fama de Mau , porque ela já a havia cantado no show “Refestança”, com o Gil. No caso do Gil, fui eu quem propôs Mané João. A da Nara, acho que foi o Menescal quem escolheu. É por isso que a dedicatória do disco diz: “Esse disco parecia impossível…”
Numa das edições do programa “Bar Academia”, da TV Manchete, você escolheu Newton Mendonça como seu padrinho. Por quê?
Porque eu o acho um cara um pouco injustiçado, porque sempre se lembra do Tom Jobim nas grandes parcerias. Então ele nunca é citado, a não ser que seja uma coisa oficial como são os créditos de um disco ou uma biografia. Em geral, a imprensa nem sabe quem é. Em geral, não é por culpa de ninguém. No meu caso, por exemplo, às vezes eu não sou citado e às vezes sou esquecido. Não só nas músicas, como até numa notícia qualquer que envolva os dois. O Roberto não tem culpa, e nem eu. A culpa é do mito dele, que faz com que a notícia renda mais se tiver seu nome.
Você se sente injustiçado?
Olha, antigamente eu me sentia mais. Hoje em dia, eu já não ligo mais não, sabe bicho?
Aproveitando o assunto. Há alguns anos, Gilberto Gil comparou seu trabalho com Caetano Veloso à parceria Roberto & Erasmo, concluindo que ele se sentia como o Erasmo da estória. Por quê será?
Por uma questão de identificação, né? É uma questão de ritmo. Gil é mais rítmico, então ele se identifica mais comigo. Caetano é mais romântico.
Vamos falar de mulher. “Mulher”, o grande sucesso de sua carreira e o seu boom de vendas na PolyGram.
Foi a plenitude da minha vida pessoal e da maturidade. Foi o ápice de tudo. Tudo tava bem, tudo tava feliz. Os meninos eram crianças e a gente tinha o encanto da criança pequena e dependente. Eu tava feliz com a minha mulher, tava tudo correndo às mil maravilhas. Eu vinha do “Erasmo Convida”, razão pelo qual a responsabilidade era grande. A imprensa cobrava, dizendo: “Ah, vendeu porque estava forrado por Roberto Carlos, Maria Bethânia etc. Quem não vende? Quero ver o próximo!”. E não era só a imprensa, não; todo mundo! Graças a Deus, foi melhor ainda.
Quase na mesma época, coincidentemente pouco depois, veio John Lennon com “Double Fantasy”, disco em que ele cantava toda a felicidade da vida doméstica. Não sei se você teve acesso ao disco antes da morte dele. Essa coincidência te tocou mais antes ou depois de sua morte?
Bicho, isso acontece muito. Não foi só isso, como muitas outras coisas acontecem. As informações são as mesmas, sabe? No mundo inteiro! Se tem um vulcão na Indonésia, o mundo inteiro fica sabendo. São sete as notas musicais. Quantas músicas são feitas por dia, no mundo inteiro? É uma loucura. Se você ficar pensando, funde a cuca… com apenas sete notas musicais. É difícil, às vezes até rolam plágios. Eu não sei o que certos caras estão fazendo agora, mas todas essas coincidências são reforçadas pelo fator idade. Depende da vida de cada um. É natural que exista semelhança de pensamentos e sentimentos. No “Mulher”, rolava uma fase que – por estar no auge da maturidade e por ter sido criado numa sociedade machista – eu repensei a grandeza da mulher na minha vida. Eu ficava imaginando: “Eu estou vivo porque uma mulher me pôs no mundo!”. Daqui a pouco, eu pensava: “Uma mulher me deu filhos, que coisa bonita! Uma parte de mim vai continuar!”. É a valorização da mulher. Tem um ditado que eu detesto: “Atrás de um homem vem sempre uma grande mulher”. Eu acho discriminativo. Deveria ser: “Ao lado de um homem, há sempre uma grande mulher”. Não há motivo para ela vir atrás. Não pode estar na frente, também; porque aí é mulher liberadona. Tipo mulher chegar na revista e falar sobre o tamanho do pau do homem. Isso é ridículo, tenho nojo dessas coisas. A mulher tem que andar ao lado do homem, dividindo a vida com ele e ele dividindo com ela. É uma união. Família pra mim é uma coisa sagrada. Mulher pra mim é igual a mulher de motoqueiro: tem que estar na garupa! (risos) Agora, tem que estar na garupa porque a motocicleta só tem duas rodas. Se tivesse aquele banquinho do lado, ela estava do lado dele!
E quanto ao disco seguinte, “Amar Pra Viver Ou Morrer de Amor”?
As pessoas não entenderam e não gostaram da capa. Eu sempre dei muito valor para a capa do disco, bicho. Ultimamente não tenho dado porque não tenho mais oportunidade. Não que eu não queira, mas por falta da liberdade de trabalho que me davam antes e que não me dão mais.
Ou que não estavam te dando mais.
É, não estavam me dando mais. Antigamente, ninguém piava na minha capa. Em “A Banda dos Contentes”, eu tive 36 Erasmo’s dando porrada num só. Eu sempre gostei de inventar essas coisas. Quando não dá fotografia, desenha. Portanto, as pessoas já não gostaram muito da capa de “Amar Pra Viver…”. Salvador Dali podia fazer de tudo, mas Erasmo não podia.
Você acha que a capa prejudicou o trabalho?
Não, mas tem sempre um negocinho. E eu gosto de tudo que é polêmico. Aí teve o Mesmo Que Seja Eu e o Amar Pra Viver . Embora eu goste muito dessa última música, ela na época não tocou muito. Eu gostei deste disco. Ele me deu um disco-de-ouro e eu já fiquei feliz, muito embora a vendagem já tenha sido inferior ao anterior. Vendeu muito menos que “Mulher”.
Até então, a direção artística era de Jairo Pires. Com as mudanças, João Augusto entrou para a PolyGram e você fez “Buraco Negro”.
Um disco super bem cuidado. Tudo foi feito com o maior carinho. Uma banda fantástica: Liminha, Serginho Dias, Marcelo Sussekind etc. Um timão. Mas às vezes você faz certas coisas muito antes e fica deslocado… só porque você fez antes. Tão logo se começou a falar no termo “buraco negro”, eu fiz o disco. Se eu tivesse esperado dois ou três anos, ele teria passado. As pessoas informadas já saberiam sobre a teoria. Mas o disco saiu e eu tive a idéia de fazer aquela nebulosa com corpo de mulher para a capa, bicho. E a letra da música? Bicho, se você lê a letra e olha a nebulosa, conclui que o “buraco negro” é o cú da mulher! (risos) E não é só; olha só as relações. Como o disco veio com Close , … (risos) Cu com cu… (risos).
Você acha que Close foi um erro, em termos de música de trabalho?
Isso foi uma coisa que independeu de mim. Quando eu cheguei na PolyGram, só se falava em Close . Começaram a tomar providências: clip etc. E a história do Close não tem nada a ver com Roberta Close. Eu fiz a música pro Roupa Nova, bolando um tema que seria sobre uma mulher perfeita na praia, enganando todo mundo. Eu falei sobre o tema pro Roupa Nova, já com a música pronta. Eles chegaram e gravaram a música, na levada de Love Will Keep Us Together . Eles gravaram o playback e ficaram esperando a letra. E nada de eu fazer. Vira de Lado era o título, mas a letra nunca chegou. Como eles já estavam com o playback pronto, eles fizeram uma música – com letra do Mariozinho Rocha – em cima do playback. Se você pegar o playback deles e cantar o Close em cima, vai ver que é igual. Pra eu fazer o Close , eu resolvi que a idéia seria a de narrar uma situação. Como é que eu vou narrar essa situação? Como é que eu vou chegar à conclusão, no fim da música, de que era um travesti, se a praia inteira estava sendo enganada e eu estava na praia? Como é que eu vou livrar a minha cara? Bicho, eu fiquei uns três meses pensando como é que eu faria isso. Eu seria então um cinegrafista, zanzando na praia. Aparecia uma mulher belíssima e eu começo então a narrar o que eu estava vendo através da minha lente. Mas, o quê é que eu faria no final? Realmente, não tinha a frase “dá um close nela”, embora tivesse relação por causa da lente do fotógrafo. Mas não tinha relação com Roberta Close. E eu não tinha o final da música. Como é que eu ia descobrir? Nós fomos a um baile de Carnaval no Morro da Urca, eu e Nara. Nós fomos, estávamos lá num camarote com uns amigos. De repente, chegou a Roberta Close. E ela ficou no camarote ao lado. Eu estava com a minha música, para terminar. Eu disse: “Pô, chegou!”. Se eu tivesse que reparar e encontrar algo para o final da música, ele estava ali – ao vivo. Eu fiquei disfarçando, mas dava umas olhadas para ver se via algum detalhe. Como em todo lugar que Robeta Close entre, rolaram comentários. Todo mundo olha logo pro peru etc. Hoje não adianta mais olhar… (risos) E aí sempre rola comentários do tipo: “Pôxa, mas é uma mulher perfeita!” Minha cunhada Sheila, sarcástica como sempre, me deu a luz: “É, mas olha o tamanho do pé!” (risos) Aí eu olhei o tamanho do pé. Daqui a pouco, ela chegou e disse: “E o gogó, tem gogó!” (risos) Ela me deu o final da minha música! Eu cheguei em casa e trabalhei de forma que a idéia que se tem é a de que o cara trabalhou de longe, detendo-se em detalhes através da aproximação da lente. Nessa de detalhes, ele acabou descobrindo o gogó e o tamanho dos pés: “Não fosse o gogó e os pés/ A minha lente entrava na dela/ No conto da mulher nota 10/ dá um close nela”. Foi o final da minha música, oito meses depois do Roupa Nova já ter gravado.
E o “Rock In Rio”? Como é que foi bater de frente com aquele monte de metaleiros ensandecidos?
Bicho, a minha vida divide-se em A.R.R. e D.R.R. – “Antes do Rock In Rio” e “Depois do Rock In Rio”.
No bom sentido?
Bicho, pra mim foi. Não sei se foi bom ou mau, mas realmente eu nunca mais faço pré-show para artista nenhum. Nunca mais. A prepotência dos artistas estrangeiros é muito grande. Eles têm a vantagem da língua deles, que é falada no mundo inteiro. Eles gravam discos e o mundo inteiro fica conhecendo. A gente não tem isso, só quem sabe do português é a gente, Portugal e Angola. Então eu não admito. Os caras são muito prepotentes e o alguns seguimentos do público é “Maria-vai-com-as-outras”. O que poderia ter sido uma experiência coroada de flores e de beleza, acabou tendo um lado ruim. Foi um soco na cara, mas foi bom… porque as coisas ruins que me acontecem também são importantes. Porque eu aprendo a não fazer mais ou a ficar com o pé atrás. Foi uma experiência muito chata… e não foi culpa de ninguém. Nem os metaleiros sabiam que eles eram tantos. Eles são poucos, isoladamente. Porque, como foi um ponto de convergência, eles vieram do Brasil inteiro e se encontram. Sentiram-se muitos naquela hora. E, com a agressividade deles, ficaram mais fortes ainda. Se você vai a um show para curtir um som e encontra uma turma dessas pela frente, acaba assistindo lá de trás. Uns três ou quatro mil tomaram conta lá da frente do palco.
E se você tivesse sido escalado para abrir para James Taylor?
Isso. Mas os próprios organizadores aprenderam no momento. Todo mundo aprendeu no momento, até os metaleiros. Eles não sabiam que eram tantos, eu acho que eles mesmos se assustaram. Mas eu não fui o único a sair prejudicado. Ney, Rita… Pepeu, que é guitarrista, foi prejudicado.
Quando rolou o primeiro MTV Awards em 1995, fizeram uma homenagem aos grandes roqueiros. Citaram Rita Lee e Raul Seixas, mas esqueceram-se de que você foi roqueiro muito antes deles. Não dá pra entender. Você deixou de ser roqueiro?
Depois disso que aconteceu, tem uma pessoa que está muito preocupada e que nunca mais conseguiu dormir: o meu neto! (risos) Tem feito xixi na cama! (risos) Bicho, eu apelidei a MTV do Brasil de Jim Carey: “O Pentelho”. Porque, bicho, tem umas coisas que não dá pra entender. Quem é que meteu na cabeça das pessoas que a juventude não tem diálogo? Outro dia, eu vi um programa e não tinha nada; era um enche-linguiça danado. Eu quero ver tapes, bicho; nacionais e estrangeiros. Não quero ver ninguém falando abobrinhas e besteiras… Eles estão enchendo linguiça, bicho. No rádio, também. Três minutos sem música, bicho, com o cara falando besteira.
Este incidente do “Rock In Rio”, de alguma maneira te brochou em termos de carreira? Você foi diminuindo a quantidade de shows.
A mente continua jovem mas o físico não. Se você quer dar um pulo daqui até ali, a mente acha que você pode… porque antes você podia. Só que o físico não obedece mais. Consciência, né? Os caras corriam pelo palco, se jogavam de cabeça, pulavam e subiam nos negócios. Eu não podia mais. Um monte de coisas começou a ficar difícil, sabe? Eu também me retraí, porque eu sou assim.
Por quê você saiu da PolyGram?
Eu saí da PolyGram depois de 20 anos… Eu saí com um telegrama que mandaram pra mim. Foi só isso, eu recebí um telegrama: “Resolvemos reduzir nosso cast por contenção de despesas etc”. Tem artista que sai de gravadora e diz: “Nunca mais vou botar meus pés aqui!”. Ele está errado. Porque a gravadora não tem culpa nenhuma; as gestões é que têm. Cada gestão nova é uma gravadora nova.
E aí você foi pra SBK, pra fazer aquele disco ao vivo que acabou saindo pela EMI, quando esta comprou aquele selo. Como foi?
Tem sempre um grande erro nas coisas. O grande erro daquele disco ao vivo no Golden Room foi não terem aberto os shows para a imprensa. Eu não sei porque, mas foi proposital: “Não vamos abrir o show para jornalistas, porque quando sair o disco eles vão ver o resultado!”. Eu não entendi aquele marketing. Nos dois dias de boca-livre no Golden Room, todo mundo do jet e do show business estava lá. Menos jornalista. Nenhum jornalista foi convidado, eu não sei porquê. Resultado: o disco saiu. Como disco ao vivo já não toca muito no rádio e ele não tinha música nova, ele não aconteceu e até hoje eu não entendi aquela da SBK. Saiu um vídeo, que também nunca foi vendido. Eu não entendo.
O trabalho seguinte acabou sendo “Homem de Rua”, pela Sony.
Bicho. A Carta, com Renato Russo. Que gravação linda! O problema deste disco é que aquela atriz morreu, a Daniela Perez. A faixa Homem de Rua era tema dela na novela “Corpo e Alma” e, quando ela foi assassinada, eu resolvi tirar a música do show e não quis mais trabalhá-la. A música estava começando a pegar. Aquilo me deu um troço, toda hora que a garota aparecia na novela a música entrava… Bicho, esse disco teve umas coisas. A faixa Deixe-Me Outro Dia foi inicialmente escolhida para música de trabalho, saindo mix etc. Começou a tocar, mas aí o Mariozinho Rocha pegou Homem de Rua e a colocou na novela. Parou de tocar a primeira e começou a tocar a segunda, da qual não tínhamos mix. Mas aí saiu o disco cheio, enquanto eu e Renato cantávamos A Carta . Ele deu um banho, a música é sucesso no Paraná e no Espírito Santo. Aqui nunca tocou, ninguém conhece, são uns erros incríveis.
Como é que foi participar da mesma gravadora do Rei?
Clip, a gente ia fazer um clip: eu e o Renato Russo. Não sei o que é que aconteceu lá, mas parece que o Renato exigiu o diretor e pediu no mínimo 20 mil dólares. Um bom preço, cobra-se isso pra fotografar aniversários! (risos) Como ele já tinha o pessoal que fazia os clips da Legião e eu não tinha ninguém, ele sugeriu aquilo. Passou o tempo e nada. Eu liguei pra Sony e perguntei: “Cadê o clip? Quando é que vai começar a filmagem? O quê é que a gente vai fazer?”. A resposta: “Não, não vai ter mais clip, não!”. “Como não vai ter mais clip?”, perguntei. “Porque o Renato Russo pediu 20 mil dólares para participar do seu clip, porra!”. Eu disse: “Pô, é mesmo?”. Bem, vamos supor. Se ele tivesse pedido isso, tava muito bem pedido. O disco meu, ele é convidado e não tem a mínima obrigação de trabalhar o disco. Eu achei estranho mas aceitei. Segui a vida. Se não tinha clip, não tinha clip. Mas depois vim a saber que não era nada disso. Ele dissera que o clip inteiro custaria 20 mil dólares!!! (risos) Com o pessoal que normalmente trabalhava pra ele. Então, são mal-entendidos (propositais ou não) que existem e que fazem com que a gente aprenda a não dar ouvidos à primeira coisa que te dizem, neste meio. Se chegar uma fofoquinha, você não pode sair quebrando o pau por causa disso. Você tem que ficar esperando. Bicho, Renato é gente finíssima. Uma pessoa gentilíssima, um amigo divertido e tudo mais. A linha melódica de A Carta foi criada por ele ali e na hora. Portanto, tomara que saia publicado: “Eu acho que a Sony bobeou mesmo!”
O quê você ouve desse pessoal novo… Do rock’n’roll dos anos 80, pra ser exato?
Você perguntando sobre esse pessoal novo e eu pensando em João Gilberto, Elvis e Chuck Berry! (risos) Bicho, eu ouço muito músicas. Eu gosto de uma música do fulano e de uma outra música do beltrano. Tem músicas do Paralamas que eu gosto – adoro Canção do Marinheiro , acho aquela música e Alagados uns verdadeiros achados. Tem umas coisas assim que são geniais, com esta mistura de reggae e ska. Eu também adoro reggae. Então tem Legião, que eu também admiro. Eu adoro as letras kilométricas e as estórias louquíssimas que o Renato faz. Cada um tem suas coisas. Eu gostava de algumas coisas do falecido RPM e tem uns grupos cujas músicas nem me marcaram. Pode ser que eu esteja me esquecendo de algum. Ultraje, sou amigo do Roger. Gostei de algumas músicas, pelo sarro que eles tiraram da gente com esse negócio de “invadir sua praia” e “a gente somos inútil”. Cazuza, não precisa falar. E o Barão, cujo show não pude ir… Bem, eu lhes mandei um bilhetinho: “Galera do Barão: sexo, Deus e rock’n’roll nessa estréia maravilhosa. Do amigo, Erasmo Carlos”. Dos novos, eu gosto muito do Paulinho Moska e do Chico César, embora eu não conheça muito seus trabalhos. Pelo que já vi, eles sabem fazer letra e música. E por aí vai.
Fale um pouco mais sobre o projeto deste seu novo CD .
Ouvi meus discos antigos. Eu e o Guti fizemos umas três ou quatro sessões aqui em casa, que vararam a noite inteira. Ouvimos todos os discos antigos e selecionamos 50 músicas. Em seguida, começamos a consultar os amigos. Tem muitas que não entraram. Meu empresário, o Marinho, ele adora Meu Mar … Ela estava nas 50 mas, quando nós chegamos às 14 finais, ela ficou de fora. Panorama Ecológico está lá.
Pois é. Panorama Ecológico foi inspirado em alguma música de Steely Dan?
De repente foi. Quando eu faço uma música nova, nem todas eu sei exatamente o que eu quero. Por exemplo, quando eu cheguei no estúdio para gravar Superstar , eu já sabia até como era para ser o solo. Quando a gente tem tempo para compor e burilar uma música, você já chega com ela pronta. Tem outras que não. Panorama Ecológico eu cheguei e mostrei a melodia pro Liminha. De repente, como ele sabe tudo, ele resolveu levá-la numa de Steely Dan. Da mesma forma que eu poderia ter querido levá-la como Doobie Brothers.
Alguma vez já passou na sua cabeça ou na do Roberto a idéia de vocês fazerem um disco juntos? Fugindo do seu estilo e do dele, juntando os dois para fazer algo diferente? Tipo “Tropicália 2”, com Caetano e Gil se juntando para fazer um trabalho único e depois continuando suas próprias carreiras?
Bicho, olha, sinceramente, eu acho que não dá. E eu vou te explicar porquê. A gente já gravou duas faixas juntos, uma no meu disco e uma no dele. A gravação dele no meu disco ficou melhor do que a minha no disco dele. Sabe porquê? Porque na minha, como a música era romântica, foi tudo tranquilo. Na dele, eu fiz coisas em Papo de Esquina que acabaram sendo cortadas ou que não me deixaram fazer, sabe? Existe uma censura de interpretação. Iria ter muito choque de levada musical…
Mas não entre vocês. Se fossem apenas vocês dois, elegendo um produtor de consenso?
Eu sinto a música de um jeito e ele de repente quer cantar de outro. Que eu cante do meu jeito e ele cante de outro, tudo bem. Daqui a pouco, ele quer que eu cante do jeito dele e eu vou querer que ele cante do meu jeito. (…) Por exemplo, eu acho o rock’n’roll que o Roberto faz leve. Não que eu goste de rock’n’roll pesado, mas o meu é mais pesado que o dele, sabe? O romântico dele é muito mais aperfeiçoado que o meu. Ele tem muito bom gosto pra coisas românticas, coisa que eu não tenho. Da mesma forma que, em termos de rock, eu domino mais do que ele. Ele não chega a mim e nem eu chego tanto a ele. Eu acho que ia ser uma coisa muito difícil. Seria um “projeto”! (risos)
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