Não, eu sou o do meio. Nós nascemos na Piedade e começamos tudo ainda garotinhos, e na época o que tocava era Nelson Gonçalves, Anísio Silva etc. Quando eu tinha 14 ou 15 anos e cantava samba canção de Nelson Gonçalves, o Renato ficava no cavaquinho e eu ficava no violão ou no pandeiro. Em algumas daquelas casas vizinhas sempre rolava seresta…
Vocês foram todos auto-didatas, né?
Sim, tudo auto-didata. Meu pai foi ator de cinema, outro dia até vi um filme com ele e fiquei influenciado. Mamãe também foi cantora, seu nome era Elair Silva… mas não chegou a gravar disco. Ela chegou a participar de um concurso e chegou a ganhar como melhor cantora, mas meu pai ficou com ciúme e cortou-lhe as asinhas. Ela era uma pessoa caseira mas cantava muito bem. Minha casa na Piedade era uma casa festeira, todo domingo a família se reunia para o famoso almoço dominical. Havia um monte de violão e a gente ficava cantando.
Mas aí veio o rock’n’roll e vocês tomaram outro rumo.
Exato, a história do rock’n’roll foi violenta… como todo mundo já sabe… Foi um negócio pra revirar o mundo inteiro e pra gente o “Rock Around The Clock” veio com uma força muito grande. Todo mundo pisando nas poltronas dos cinemas, festas de lambreta com vitrolinha portátil, ouvindo Little Richard, foi um absurdo.
Você começou com o Renato e seus Blue Caps e chegou até a participar dos primeiros discos, lançados por selos pequenos etc, mas de repente partiu logo para uma carreira solo. Como é que isso aconteceu?
Quando começamos a idéia da banda, achamos que a idéia seria legal e o Renato ficou como líder, por ser guitarrista e por ser o mais velho também. Meu pai disse que o mais velho tinha que ser o líder… mas eu era o cantor. César cantava menos, mas cantava… e ele afinava seu contrabaixo acústico em dó maior, o que era muito engraçado. Começamos fazendo mímica, como todo mundo já sabe, e aí viemos em cima da onda do Elvis. Todo mundo saía dos filmes do Elvis se sentindo o próprio… e deixava o topetão crescer, e usava gola alta e jaqueta de couro. Eu usava e era o próprio. Renato também era meio Elvis, mas não era tanto… e, como eu cantava mais as músicas, tinha que assumir mais as coisas todas. César não era nem um pouco Elvis.
Sua postura falou mais alto e não combinou com a imagem de um bandleader.
Exato. E, quanto a gente começou a cantar as músicas do Elvis, Carlos Imperial viu a gente na Rádio Mayrink Veiga e, quando a gente foi parar na TV Continental, já estávamos na praia do Neil Sedaka – época em que ele veio aqui. Ele falou: “Você tem que se destacar!” E foi falar com meu pai, o velho Barros: “Você tem que falar pro Ed fazer uma carreira solo!”
E aí você foi pra Odeon, pra RCA e finalmente pra CBS, já na Jovem Guarda. Estes discos volta e meia tinham acompanhamento de Renato e seus Blue Caps, não?
Sim, exatamente. Fiz muitos compactos e o primeiro LP acabou demorando, só saiu pela CBS em 1967. Fiz compactos pela Odeon e pela RCA, sempre muito ligado ao Renato. Freud explica. Eu sempre gostei da coisa de ter uma banda, o Renato mesmo diz que o grande lance de rock na Jovem Guarda foram as bandas – porque os cantores, cantoras e duplas faziam muito mais música romântica. Imperial me levou pra Odeon, mas talvez tenha sido prematura a minha saída dos Blue Caps. Talvez eu fosse mais chegado a ter uma banda mesmo.
Você demorou a chegar ao primeiro LP, mas depois foram muitos compactos até chegar ao segundo LP. Você sentia alguma dificuldade dentro do mercado? Você foi um dos poucos cantores de renome da Jovem Guarda que só conseguiu fazer um LP, né.
Pois é, exatamente. Todo mundo gravava disco abundantemente, às vezes mais de um LP por ano até. Olha só, que coisa interessante, era um traço da minha personalidade. Eu fazia muito show e aquilo me bastava, mas talvez tenha faltado um pouco de agressividade. Eu fazia show e gravava compactos, mas compunha muito e gravava como músico.
Seu primeiro e único LP de Jovem Guarda saiu em 1967, pouco antes do término daquela era. Depois disso você ainda fez alguns compactos pela CBS até o início dos anos 70.
A morte do meu pai no final de 67 me afetou muito, porque era ele quem cuidava pessoalmente da minha carreira. Mas eu continuei gravando muito, trabalhava muito no estúdio da CBS, mas os discos não traziam crédito. Gravava muito nos discos do Renato e também participava dos shows deles, cantando os sucessos internacionais como convidado. Fiz muita viagem por aí sozinho, além de uma turnê nacional com o Jerry Adriani. Tive que viajar muito, por causa daquela perseguição do Juiz de Menores eu – como todo mundo – teve que aprender aganhar a vida cantando fora do Rio.
Nos anos 70 teve uma época em que você intercalava os compactos do Ed Wilson com outros sob o pseudônimo de Barry Dean. Como foi esse momento?
Eu ainda trabalhava com o Renato, e cantava sucessos internacionais em shows. Era aquela fase de Pholhas, Morris Albert e Michael Sullivan, então acabou acontecendo. Foram apenas dois compactos, mas um deles teve ótima repercussão e em algumas cidades as pessoas pediam que a gente cantasse o sucesso do Barry Dean e não acreditavam quando eu me identificava como o próprio. Fora algumas coisas em compilações, sem crédito…
Nos anos 80 você trabalhou muito com produtor na PolyGram, além de ter composto muito – com destaque para “Chuva de Prata”, parceria com Ronaldo Bastos, sucesso na voz de Gal Costa. Você deu uma parada na carreira artística.
Sim, eu investi na carreira de produtor e trabalhei muito com Sidney Magal, Peninha, Jerry Adriani, César Sampaio etc. Quando Pedrinho da Luz saiu da Polydor, o Roberto Livi entrou em seu lugar e me chamou pra trabalhar com ele na produção de discos.
Depois dessa fase é que você voltou-se para a música religiosa, gravando discos pela Copacabana e depois pela Line Records.
Sim, mas antes disso eu ainda fiz um compacto. Quando o Livi saiu, eu acabei trabalhando com o Miguel lá na RCA, compus pra Gal etc, e também fiz muita coisa pro mercado latino – quando o Livi me chamou pra produzir discos em Los Angeles e Miami. “Chuva de Bençãos” foi o primeiro LP da nova fase, depois é que eu fui pra Line Records.
Você sente falta de fazer um disco desvinculado dessa coisa gospel?
Eu gostaria muito, idéias não faltam. Os Originals me fizeram voltar pro rock, depois de participar de alguns projetos ligados a revivals de Jovem Guarda de dez anos pra cá. Já faz algum tempo que eu não gravo disco solo.
Este momento de banda com os Originals não interrompe sua carreira individual, apesar de ser uma banda com projetos de shows e discos para o futuro?
A exposição dos Originals naturalmente faz com que o mercado se lembre de mim, é um processo normal. Quem sabe um dia, mas – como esses anos todos – eu sempre consegui viver de música, independente de disco solo, no momento estou curtindo os Originals. Não descarto a possibidade, mas agora tenho alguém por trás do sucesso dos Originals, e que é uma pessoa que respeito bastante, o Miguel Plopschi. Nosso esquema tá muito bem organizado, tanto para discos quanto para shows.
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