Banda carioca atuante não só na Jovem Guarda, como no circuito de bailes de 1965 a 1975, os Canibais estão completando 40 anos de história em 2005. A formação original era de Aramis (guitarra base), Elydio (guitarra), Max (bateria) e Wagner (baixo), mas depois Wagner deixou a banda e, com a entrada de Sérgio (guitarra solo), Elydio assumiu o baixo. Horácio fecharia a formação original, como vocalista e tecladista até 1967 – quando saiu para uma carreira solo, o que fez com que Aramis se tornasse o vocalista principal desde então.
Os Canibais estão separados oficialmente há 30 anos também, mas agora – com um novo CD nas lojas em outubro, pela Seven/Universal – eles voltam à estrada. Em depoimento exclusivo a Marcelo Fróes no último dia 12 de setembro de 2005, o guitarrista e vocalista Aramis de Barros contou tudo sobre a banda e sobre a animação de cair novamente na estrada – com lançamento de novo CD e de site oficial em outubro.
Acho legal a gente começar falando sobre a volta da banda. De onde surgiu esse desejo de fazer algo profissional, depois de tantos anos de reuniões informais?
Eu sou reincidente, eu nunca quis parar com a banda. Mas a vida cria as necessidades e você é obrigado a trilhar outros caminhos – como a gente, que vem trabalhando em produção de discos e essa coisa toda que você sabe. Mas a gente sempre se encontrou e amizade, que é o principal da história, permaneceu. Apesar do fim do conjunto, a gente se gosta muito e até as brigas entre nós é briga de irmão. A gente até hoje mantém um relacionamento muito bem, até com os que estão mais afastados. Eu, meu irmão Elydio, Max, Mauro e Roosevelt estamos sempre muito próximos, mas também tem o Fernandinho, que tocou com a gente, e o Sérgio – que foi o primeiro guitarrista, foi quem me ensinou a tocar guitarra e que está em São Paulo. Horácio foi o grande cantor do conjunto, foi ele quem cantou “Gina”… Essa turma tá sempre circulando, tá sempre por perto. Wagner, que foi nosso primeiro baixista e era nosso vizinho. A gente tá sempre se falando e volta e meia junta um ou outro, até que chegou o ponto em que ano passado, como o conjunto iria fazer 40 anos este ano, a gente resolveu gravar alguma coisa. E aí, meio que correndo, entre setembro e outubro, no final do ano passado, eu já tinha alguma coisa programada e nós fomos pra dentro do estúdio e gravamos. Fizemos umas 15 faixas e, com este CD na mão, a gente começou a falar mais sério a respeito do assunto. “Vem cá, por que não? Por que a gente não pode?” Eu sempre vejo os sites dos Hollies, dos Beach Boys e dos Monkees, e todo mundo está voltando e tocando. E aí agora, com todo esse movimento de Jovem Guarda, além dos Originals, que também nos estimularam, a gente concluiu: “Se eles estão fazendo, a gente também pode fazer!” É óbvio, né?
Dessa vez, esse ano a coisa tomou um rumo diferente e os projetos não serão apenas comemorativos. Todo mundo está com gás pra continuar trabalhando.
Exatamente. E por que? Porque pessoas que estão tocando conosco já estão tocando direto – como o Cosme, que está na bateria, também toca com diversos artistas. Roosevelt toca na noite, continua tocando. Meu filho mesmo está sempre tocando com outros grupos. Betinho, o tecladista, está tocando com a gente. Então a gente tem a capacidade pra fazer isso, ninguém tá caquético, né? (rindo)
Você e Max Pierre foram os membros originais que continuaram trabalhando com música, desde o fim da banda.
Exatamente, mas na verdade eu e Max tivemos mais destaque trabalhando com música por causa da função que a gente exerceu. Max hoje é vice-presidente da Universal Music, e eu estive 20 e tantos anos à frente da direção artística da Som Livre. Isso cria um destaque, mas não menos importante eu considero a atuação do Roosevelt como músico da noite. Ele tem tocado esses anos todos, é uma pessoa bem conhecida na noite e vive de música até hoje. E o Mauro é jinglista, e só há pouco tempo parou. Ele trabalhou com Tavito na Zurana e gravou com um monte de artistas. Dessa forma, ele sempre trabalhou também com música. Só que eu e Max é que ficamos mais destacados. Principalmente o Max, na verdade.
Qual era a intenção, quando vocês fizeram a gravação no final do ano passado?
Era pra gente, era pra ficar entre nós, era pra distribuir entre um mundaréu de gente. Começamos a ouvir e concluímos que tava direito, não era apenas uma comemoração. Nós começamos a mostrar a outras pessoas – outros produtores e outros músicos – e a gente tem o aval de pessoas como o Bruno Gouvea, do Biquini Cavadão, por exemplo. Érika Martins e Gabriel Thomaz também ouviram e adoraram, falando que tá com uma sonoridade jovem e nem um pouco rançoso. Wando ouviu aqui, quando a gente estava trabalhando em seu DVD no estúdio da Som Livre. Gustavo e Werneck, da Som Livre, também ouviram e deram seu aval – como o próprio Max, que quando ouviu disse: “Puxa, ficou legal, tá melhor do que eu imaginava!”
E foi por isso que “Bus Stop” foi parar numa compilação da Som Livre?
É, o Werneck resolveu usar numa compilação e ela entrou no CD “Brasil”. Ali já era uma volta, com certeza, mas ainda sem aquela intenção. A partir dali e de todas essas opiniões, a gente pensou: “Peraí, vamos atrás disso! A gente tem um Cdzinho!” A comemoração pode ser mais legal, né?” A gente quer lançar o CD com uma comemoração de verdade, então a gente quer fazer um show de lançamento. Estamos fazendo nosso site, aliás. Eu sempre quis fazer, esse tempo todo – com muita coisa na cameça – eu acabava não fazendo. Mas agora também estou concretizando isso.
Quando vai ser o lançamento?
Deve ser em outubro, ainda estamos pedindo autorização das músicas. O site deve ser lançado junto. A gente quer até fazer uma festa de lançamento, um negócio legal mesmo. Estou procurando lugar, realmente.
Quando vocês pararam?
Nós paramos em 1975, depois de exatos dez anos juntos – entre 1965 e 1975. A gente ensaiava de Segunda a Sexta e tocava de Sexta a Domingo, muitas vezes fazendo três shows por final de semana. Na Sexta tinha baile; e no Sábado tinha programa de rádio de manhã e de televisão à tarde. A gente tocava no José Messias e no Festa do Bolinha. À noite fazíamos uma média de dois shows, e no Domingo muitas vezes era a mesma coisa. Era uma pedreira, mas foram dez anos… mas a partir de 1973 a onda de bailes começou a cair, pois as equipes de som começaram a entrar. Eram muito mais baratas, com um cara e seu equipamento. Os bailes foram ficando fracos, ao mesmo tempo que Max e eu já estávamos como técnico de gravação no estúdio Hara, da antiga Musidisc. Na verdade, eu e ele fomos os últimos a trabalhar em outra coisa… porque, antes disso, lá por volta de 1973, meu irmão e Roosevelt começaram a tocar em outros lugares. Meu irmão formou-se em administração e começou a trabalhar em redes de hotéis. Mais tarde Nilo Sérgio chamou-me para ser técnico de gravação no estúdio Hara, que era o estúdio da Musidisc. Depois eu chamei o Max e nós dois fomos trabalhar juntos, mesmo sem saber muito, mas a gente aprendeu rápido – porque a gente sempre gravou naquele estúdio e já conhecia a mesa e os demais equipamentos. E aí viramos produtores e fomos levando…
E aí, em 1975, com todo mundo casado e com filho pra sustentar…
Exatamente, então tava na hora de dar uma parada… e aí demos uma parada… Na verdade, durante um bom tempo, a gente não se falava não… Eu e Max ficamos mais em contato, enquanto os outros ficaram mais afastados. Mais ou menos nos anos 80… com os filhos crescidos… a gente começou tudo de novo.
Vocês pararam há 30 anos mas a história começou há 40 anos. Quando é que vocês começaram?
Por volta do final de 1964, quando todo mundo era do colégio. Na verdade, eu tinha um grupo vocal de Bossa Nova no colégio. Tipo Os Cariocas, mas não passava nem perto. Mas a gente gostava daquilo, além do Jorge Ben inicial, e a gente começou a brincar com aquilo. Max também estava por ali, ele tinha um grupo… e o conjunto Os Canibais começou no dia 9 de janeiro de 1965. Eu me lembro dessa data porque é próxima de meu aniversário. Eu e Max, falando ao telefone, concluímos: “Escuta, você gosta e eu também gosta” Ele tinha um grupo com um primo, então a gente resolveu se juntar com meu irmão e com o Wagner. A gente nem tinha instrumento, pra você Ter uma idéia, mas pegava um violão com um cristal azul e ligava numa vitrola GE com um auto-falante de 16 polegadas. Eram três violões – um fazendo guitarra, o outro baixo e o outro batucando. Era o dia inteiro naquela vida, tocando Beatles direto. A partir dali, nós fomos melhorando e alugamos equipamento, pois arrumaram pra gente tocar num programa que tinha na TV Globo – ainda no estúdio da Rua Von Martius.
E quanto ao nome da banda?
O primeiro nome era The Drunks, mas depois eu e Max nos falamos ao telefone: “Pô, vamos botar um outro nome!” Começamos pensando em Os Animais, por causa dos Animals, que tava pintando, mas aí passamos para The Cannibals. Ele trabalhava num escritório e a gente se falava muito ao telefone, então ele pegou um dicionário e a gente concluiu que já tinha muito nome em inglês – The Fevers, The Clevers, The Jordans, The Youngsters e The Jet Blacks, além do próprio Renato e seus Blue Caps, né? Por que não botar um nome em português? Então, ao invés de The Cannibals, ficou Os Canibais… e aí uma amiga do meu pai, que frequentava o programa “Clube das Garotas” aos sábados na TV Globo, agitou e eles chamaram a gente pra ir lá. Nós alugamos o equipamento do conjunto The Blue Boys, que depois viraria Os Abutres, e que ensaiava ali perto da Praça da Bandeira e onde eu conheci o Sérgio, que foi viria a ser nosso primeiro solista. A gente se apresentou nessa programa, que era pouco antes do TV-Fone do Luiz de Carvalho. Parece mentira, mas nós primeiro fomos na TV Globo, logo na inauguração. A partir dali, já com o Sérgio no conjunto, mas ainda sem teclado, nós fomos acompanhar artistas no programa do Paulo Moreno, na Rádio Tupi. No primeiro ano a gente já estava acompanhando artista, porque era todo dia. Era um negócio impressionante. Nós já havíamos tentato tocar nos programas do José Messias e do Jair de Taumaturgo, mas a gente só estava ali. Uma vez os Fevers foram se apresentar no programa do Paulo Moreno e a gente emprestou equipamento pra eles tocarem e eles acabaram assistindo a gente tocar. “Pô, vai lá, fala com o Jair!” Nós fomos lá, já com o aval dos Fevers. Eles nos ajudaram.
Eles também estavam começando na mesma época.
É, mas eles já acompanhavam os artistas na “Festa do Bolinha”. Eles na verdade já vinham desde o “Hoje é Dia de Rock”, do Carlos Imperial. E nessa época eles estavam acompanhando os artistas, inclusive acho que nessa época quem acompanhava artista na “Festa do Bolinha” já era o The Pop’s… porque primeiro foram eles, depois The Pop’s… e depois nós, acompanhando artistas na “Festa do Bolinha”, no programa do José Messias e no “Rio Hit Parade”, todos programas da TV Rio. Foi aí que o conjunto começou a aparecer bastante e depois o José Messias veio com o “Gina”, pra gente gravar urgente na época do festival. Nós ensaiamos e gravamos as duas músicas do compacto em três dias… e aí pipocou mesmo. A música estourou mesmo.
Mas esse foi o segundo compacto. Antes disso vocês haviam feito outro.
Ary Carvalhaes, da TV Globo, tocava num conjunto e falou com o Primo, que produzidea e gravava na Musidisc. Ele nos levou pra fazer um teste, mas não deu em nada. Mas, no meio deste caminho, numa apresentação do Cine Império, quando a gente estava correndo a praça pra ver se conseguia entrar para a CBS, que era o centro da Jovem Guarda, mas tava difícil – afinal, eles já tinham Renato e seus Blue Caps, na verdade. Não tinha espaço… e aí veio a proposta da Mocambo, que tinha começado a contratar diversos artistas de Jovem Guarda. Nós fizemos aquele primeiro compacto lá, com Waltel Blanco fazendo o órgão de “We Can Work It Out” – já que a gente ainda não tinha tecladista. Ele gravou ao vivo, tocou direto com a gente… e corrigiu algumas coisas, porque a gente mal tocava direitinho. Isso foi bem no início, né? Lembro que fizemos um teste na Musidisc no dia 7 de março, porque era aniversário do meu pai, e que gravamos o compacto um mês depois. O lado B foi aquela versão horrível de “Ticket To Ride”, um estrupício mesmo… mas tudo bem, né?
Osvaldo Nunes também participou deste disco, não?
Ele era vizinho nosso lá na Vila Ruy Barbosa, ali perto da Praça Cruz Vermelha. Ele freqüentava a minha casa, era muito amigo da minha família. Era amigo de todo mundo, vivia na casa de todo mundo, a gente era amigo antes de qualquer coisa. Quando a gente entrou pra Mocambo, ele já era do Bafo da Onça e já tinha gravado “Mãe-Iê” com The Pop’s. Quando teve a nossa gravação, como ele era amigo da gente, ele apareceu lá. E acabou vocalizando junto com a gente, ajudando no vocal e o caramba. Não me lembro se foi nas duas músicas, mas eu sei que ele estava lá conosco.
Esse compacto não fez sucesso?
Ele serviu de ponto de partida pra gente, mas não tocou. Jair de Taumaturgo e José Messias até começaram a tocar as duas músicas em seus programas, naquela parade de sucessos que eles tinham.
Ninguém emplacou versão de “We Can Work It Out” no Brasil, embora “Ticket To Ride” tenha tido uma versão dos Youngsters.
Ele começaram a tocar nosso compacto, ele tocou e vendeu um pouquinho… por causa da onda da época, mas nada que fosse destaque. O destaque mesmo foi “Gina”, depois… mas o bom naquele primeiro compacto foi que a Mocambo botou um puta outdoor no final da Av. Presidente Vargas, atrás da Candelária, anunciando o disco e a banda, com a imagem daquela capinha, e o outdoor ficou lá por quase um ano. Aquilo ajudou pra caramba, junto com as aparições da gente na “Festa do Bolinha” – até cantando outras coisas. Depois veio o “Gina”, logo a seguir, e que tocou mesmo.
Esta foi a versão que aconteceu no Brasil, ainda que José Ricardo também tenha gravado depois.
Logo depois que a gente gravou, o José Ricardo gravou em português e o Cauby Peixoto também andou cantando em inglês, nos programas de rádio e televisão. A gente nessa época se apresentava cantando “Gina” com a orquestra do Severino Araújo, pois ela fazia acompanhamentos no Rio Hit Parade. Nós defendemos o “Gina” na parada todinha, até chegar ao primeiro lugar. E, quanto a gente cantava no Rio Hit Parade, era ao vivo e com orquestra – o que era um feito pra época.
Foi este sucesso que alavancou a gravação do LP dos Canibais?
Sim, mas depois “Gina” o Horácio saiu pra fazer carreira solo… quando nós já havíamos começado a gravar o LP, tanto que ele ainda canta em “Garota Teimosa”. O órgão também era dele. Mas, naquele momento, o Glauco Pereira o chamou pra fazer um compacto e desenvolver carreira solo na Polydor. Glauco era o empresário da moda, trabalhava com os Brazilian Bitles, Maritza Fabiane, Márcio Greyck etc. Nós lançamos o LP e saímos divulgando “Garota Teimosa” e também “O Prego”.
Como ficou o relacionamento com ele na época? Fechou o tempo?
Sim, naquela época ficou meio esquisito… porque a gente tinha brigado mesmo. Mas depois disso a gente já conversou muito.
Com a saída dele, como vocês resolveram a questão do vocal?
Foi aquele negócio: “E agora, como é que a gente vai fazer?” Eu assumi… porque eu já dividia os vocais dos bailes com ele. Na verdade, no baile inteiro ele cantava umas 6 músicas e a pedreira toda ficava pra mim, porque eu gostava mesmo de rock. Eu nunca tive voz de cantor, mas tive que cantar “A Whiter Shade Of Pale”, “I Started a Joke” e outras. Tudo que rolasse e precisasse de voz, lá ia eu. Então eu virei o cantor do conjunto, de 1967 até 1975.
Como foi a repercussão do LP?
Foi bem também, porque na verdade a gente começou a divulgar “O Prego”… porque também era uma versão de “Shame and Scandal In The Family”, da mesma forma que “Escândalo em Família”, gravada pelo Renato e seus Blue Caps. Era bem em cima, então a gente entrou naquela onda… mas a música que começou a aparecer mesmo e que a gente tocava ao vivo era “Garota Teimosa”. Em paralelo a isso, a versão de “Happy Together” também foi bem sacada e o LP teve uma boa vendagem… na esteira do sucesso de “Gina”, que na época não entrou no LP mas deveria ter entrado – pela lógica, né? Fomos a Recife, Salvador, interior de Minas, São Paulo, Espírito Santo e aí pronto, abriu o caminho pra gente. A gente viajou bastante, até.
Vocês fizeram um compacto de carnaval em seguida.
Foi um compacto com duas músicas do José Messias, quando ele falou pra gente “fazer um negócio diferente”. Acho que foi pro carnaval de 68 aquele negócio lá, mas não aconteceu nada. Tocamos bastante, principalmente no programa do José Messias – onde a gente tocou pra caramba, inclusive! Mas não teve nenhuma vendagem significativa.
Então vocês voltaram pro estúdio e gravaram o compacto “La La La”.
De repente apareceu um produtor novo na Mocambo, nada mais nada menos que João Araújo… com uma música do festival Eurovisão… pra gravar com orquestra… então vambora! Gravamos aquilo e essa apareceu bastante, deu uma alavancada também. Mas depois o Trio Ternura também gravou a música e o sucesso ficou meio dividido.
Vocês acompanhavam artistas em gravações ou somente em programas?
Chegamos a acompanhar também, mas só lembro de “O Leilão” com Maritza Fabiani, que foi namorada de alguém na banda. Naquela época todo mundo andou namorando alguém, eu fui namorado da Denise Barreto. Uma outra namorou o Max. A gente tocava muito com Kátia Cilene, Rosa Maria, Maritza Fabiani e Denise Barreto, aquela era a nossa turminha – além de Wanderley Cardoso, Jerry Adriani, Erasmo Carlos, Wanderléa etc. Tenho muitas fotos, já separei várias para o site.
E aí, depois do “La La La” vocês saíram da Mocambo, numa época – logo após o fim da Jovem Guarda – que muitas bandas perderam o rumo e várias acabaram. Como foi aquela fase para vocês?
Na verdade, é estranho… porque a gente gostava de tocar e não tava ligado em grana e essa coisa toda. A gente tava fazendo baile pra caramba e então, nessa fase de 1968 a 1970, a gente dominou a praça de baile aqui e tava direto nisso, independente de disco. Fizemos um teste na Polydor, porque houve abertura no estúdio ali da Av. Rio Branco, mas não deu em nada. E aí a gente fez o Bango pra Musidisc.
Mas o nome Canibais permaneceu. Bango foi apenas o nome de fantasia que utilizaram para este projeto.
Fizemos aquilo ali numa tentativa. A idéia era legal, de gravarmos sem ninguém saber quem estava tocando. Fizemos isso em 1969 e eu tenho a maior vaidade por aquele disco, porque todas as músicas são composições minhas. Todas as letras, todas as músicas e todos os arranjos. Na época, a idéia do Nilo Sérgio foi aquela coisa de mudar a imagem. Mas a Musidisc estava mal das pernas e ficou complicado, então juntou-se com a Padrão e só foi lançar o disco um ano depois… em 1970. E ficou aquela bagunça, porque nós tínhamos outras coisas – que nós tínhamos gravado e que acabaram não entrando,aa como “Moongoose” (da Elephant’s Memory, da trilha sonora de “Midnight Cowboy) e uma outra em português, que eu não me lembro… mas que ficou por lá. O repertório selecionado acabou misturando músicas em inglês e músicas em português… e ninguém entendeu nada, um ano depois. Já não era mais aquilo, a cara das músicas já tinha mudado e não deu em nada. Ficou perdido lá.
Mas Os Canibais ainda gravaram mais dois compactos no início dos anos 70, antes de terminarem.
Sim, aí eu e Max já éramos técnicos da Musidisc e fizemos “Reencontro”. Mariozinho Rocha é que produziu, com acompanhamento de orquestra de cordas e metais. Mais tarde, em 1974 nós fizemos um último compacto… que nós mesmos produzimos e mixamos. Esse foi o último compacto e no ano seguinte a gente parou.
Você e Max estavam trabalhando lá no estúdio da Musidisc. Como você desenvolveu sua carreira de produtor?
A gente era técnico e Oswaldo Cardaxo, que era da antiga etiqueta Equipe, abriu sociedade com o América e fez a Padrão. Eu produzi um disco do The Pop’s com os caras dos Famks, que viriam a tornar-se Roupa Nova. Ele detinha o nome do The Pop’s e fez um disco, com uma mulher na capa. Enquanto eu fazia isso, produzindo discos de sucessos para a Padrão, Max foi produzir na Continental – fazendo os discos dos Motokas com Márcio Antonucci. Eu aproveitava os mesmos Famks pra gravar coletâneas na Padrão, durante cerca de um ano… e depois na CID fiz produções por cerca de quatro anos. Lá eu trabalhava com Jayme Além, que hoje trabalha com Maria Bethania.
Na CID você também gravava discos de fantasia, com músicos conhecidos e cantores hoje famosos – na época sem crédito, como o Roupa Nova, Emílio Santiago, Rosana etc. Hoje é cult pra caramba ouvir isso e tentar identificar.
Nem eu mesmo lembro mais, mas antes de mim teve o Durval Ferreira lá. Quando ele saiu, eu entrei e fiquei trabalhando com a mesma turma – com o Jayme Além, que era arranjador. Ele tinha um grupo chamado O Rancho – com sua mulher Nair, o tecladista Jotinha e duas cantoras irmãs. Gravamos muitos discos de covers na CID – “Explosão Mundial” etc. Foi ali que eu conheci Bezerra da Silva, através do Genaro e da Dinorah (das Gatas), que gravavam muitos sambas de paradas de sucesso. Foi ali que ele surgiu e ele me ajudou a entrar para este circuito do samba, que eu produzi por muito tempo. Trabalhei com Agepê, Jorge Ben, Elba Ramalho etc. Quando o Max chamou-me pra produzir o “Coisa Cristalina” do Wando na Som Livre, como free lance – na mesma época em que trabalhava com Mazola na Ariola e também com Os Trapalhões -, no meio da gravação acabei sendo convidado pra trabalhar na Som Livre – onde, ao longo de mais de 20 anos, trabalhei com praticamente todo mundo.
Site oficial dos Canibais:
www.oscanibais.com.br
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