Um novo bate papo de Erasmo Carlos com Marcelo Fróes, realizado no dia 5 de julho de 2001 – por ocasião do lançamento do CD “Pra Falar de Amor”. Erasmo inaugurava uma nova fase, voltando com um disco de inéditas pela Abril Music e estava feliz com o sucesso de Mais Um Na Multidão, seu dueto com Marisa Monte.
Comecemos falando do novo disco e da motivação para fazê-lo. Um mês e tanto depois do lançamento, como é que você analisa sua repercussão?
Bom, eu gostei muito da repercussão… Foi como uma volta, vamos admitir assim. E, como uma volta, foi uma boa volta, sabe? Está acendendo em minha a velha chama da criação desvairada, então é por isso que eu digo que não podem me dar um dedo porque eu quero o braço. Então, na minha cabeça, já estão um monte de coisas se passando; um monte de misturas, principalmente influenciadas pelas novas gerações que estou ouvindo. Tenho pesquisado meu passado, vendo como eu era um cara criativo, porque eu tinha plena liberdade de criar – pela minha espontaneidade, porque eu sou um cara muito espontâneo… assim como Jorge Benjor também. Não adianta ele fazer um trabalho endereçado, porque não dá; deixa ele ser livre, o Jorge Ben pra mim é um passarinho e ele precisa voar. Não pode prender o Jorge numa gaiola e eu também sou um pouco assim, então isso tá reacendendo em mim essa velha chama da criação total mesmo – das experiências. Isso pra mim é bom, mas eu não sei se assusta os outros ou se assusta as gravadoras. Pra mim isso é muito bom, sabe? Porque, vendo o que está se passando, só procurando é que se vai chegar a coisas novas. Sempre foi assim, então – se a gente ficar preso a fórmulas que estão dando certo – nunca vai se sair do que está, principalmente no ponto em que se chegou a música mundial em termos de criatividade. O que aparece de novo são coisas programadíssimas pra serem aquilo e por isso não espontâneas, e se não são espontâneas não conseguem atingir o coração das pessoas e por isso não têm vida própria e não têm vida longa.
Então são coisas passageiras e o único caminho é realmente a criatividade livre, que eu acho que todo mundo deveria experimentar. Eu sei que existe a parte comercial das gravadoras, o retorno financeiro do investimento, mas eu acho que deveria ser como no futebol. Um monte de coisas deveriam ser repensadas, em termos de indústria, se alguém tiver interesse nisso… Se não tiver interesse, deixa tudo como está. Agora, se tiver interesse no futuro, de alguma forma tem que repensar um monte de coisas… e principalmente não esquecer que o artista compositor tem que compor, e o artista cantor tem que cantar. Quanto mais você arruma coisas pro compositor fazer, que não seja compor, menos ele vai compor. Quanto mais coisas você arrumar pro cantor fazer, que não seja cantar, menos ele vai cantar. Então isso, pra indústria do disco, o artista em geral tem que fazer o que ele gosta de fazer. Então às vezes você vê um artista deslocado de sua verdadeira função, vamos dizer assim, por outros motivos… e ele poderia estar usando aquele tempo pra fazer o que ele quer e que ele acha que o povo quer e que as pessoas esperam dele, e que é produzir. Mas isso é uma estrutura muito grande, são vários seguimentos que teriam que ser mudados – a mentalidade de certas coisas. Mas eu não sei se isso interessa pra indústria em si e pras necessidades da mídia e das novas tecnologias.
Deve interessar, porque eles estão precisando mudar alguma coisa. Estão reclamando de uma crise muito braba no mercado.
Certo, eu acho que existe uma crise criativa… mas a culpa é deles. São eles que podaram e podam os artistas de criar, então é por isso que o artista não cria. Porque um compositor, por exemplo, ele não pode ficar dando entrevistas pra lá e pra cá no rádio e na televisão – falando de outros assuntos que não seja música.
Mas o cantor e compositor tem muito aquela coisa de formador de opinião, que você não vê muito em atores ou jogadores de futebol. A imprensa não os procura muito pra entrevistas, é mais comum os músicos despertarem esse interesse por sua opinião. Você não vê as pessoas procurarem Tarcísio Meira pra saber o que ele pensa, mas querem saber o que Caetano Veloso, Erasmo Carlos e Marisa Monte pensam. Você nunca reparou que o pessoal da música é muito mais procurado?
Sim, não resta dúvida, mas eu acho que o cara – se ele é um formador de opinião – deve externar suas opiniões na música. E não ficar dando entrevistas, porque o tempo que se perde dando entrevistas é muito chato. Mas o cara tem que fazer isso, porque ele tem que entrar na mídia e tem que chamar atenção, inclusive sobre si – graças a Deus, eu não tô reclamando, apenas desabafando. Teoricamente, não isso, ele é um fazedor de coisas. Eu, como público, quero que o artista que eu gosto faça cada vez mais e sempre. Então, se ele não faz, eu sinto falta. Eu achava que o criador devia criar sempre – desde que lhe dessem todas as condições para isso. E que ele criasse sempre, enquanto eu – ávido – ficaria esperando o resultado de sua criação, para discutir ou não, identificar ou não, gostar ou não.
Talvez, por esta sua opinião, é que a gente entenderia melhor porque é que figuras como Chico Buarque, Bob Dylan, João Gilberto e Roberto Carlos não gostam de dar entrevistas?
Certamente. E os que dão, não digo todos, mas muitos dos que dão poderiam se encaixar nesse time. Dão porque têm que dar, porque o Roberto Carlos é um cara que atingiu um status graças ao qual ele pode se dar ao luxo de evitar entrevistas, de evitar aparecer em programas de televisão e rádio. Chico Buarque também, mas nem todos os artistas atingiram esse estágio – ou por falta de competência, ou por falta de oportunidade, ou por falta de alguma outra coisa. Então eles têm que fazer pra entrar na mídia, senão são assassinados cruelmente… pela falta de exposição. Mas, se você for perguntar intimamente a cada um, eles vão dizer que não gostam… porque ninguém quer saber realmente da música do cara. A maioria não é uma entrevista séria, com um cara que saiba da sua vida e que vá te fazer perguntas inteligentes e as quais você vá se sentir feliz em estar respondendo. A maioria, 99%, são entrevistas que não levam a nada. São coisas da vida particular da pessoa, principalmente, e opiniões da pessoa sobre assuntos e temas acerca dos quais existem pessoas que ganham dinheiro justamente pra responder. No entanto, você – que teoricamente não teria uma obrigação sobre esses temas – perde na sua vida um tempão dando opinião sobre essas coisas.
Você falou sobre indústria e sobre a crise de criatividade, coisas que fazem com que o compositor se sinta desestimulado. Você acha que isso afinal é causa ou consequência desses modismos de disco ao vivo, disco de regravação, disco acústico, disco de duetos, disco tributo etc?
Eu acho que isso é consequência de coisas antigas. Não é uma questão de saudosismo, mas realmente na minha cabeça o compacto simples era algo que o público comprava ou não. Depois de três lançamentos assim, esporádicos, tudo seria reunido num LP que incluiria aquelas seis faixas e também quatro ou seis inéditas. Isso pra mim seria o ideal, como era antigamente. Você realmente ia aos poucos, tinha tempo e fôlego pra fazer as coisas. Todo mundo tinha fôlego até pra te ajudar, e não como virou hoje – que virou um desperdício, acho eu. Você grava um CD de onde só toca uma música ou no máximo duas. Se tocar três, já é um fenômeno. De repente a pessoa gosta de uma música só, mas é obrigada a comprar um disco e aturar as outras músicas porque só gosta daquela. Então esse processo influi na criação, pois era muito mais simples e muito mais funcional. Muito mas acessível pro público, até porque dizem que o “CD com uma música só não compensa”. Eu não estou entrando nesta parte, estou apenas falando do que seria funcional e prático pra todos: pro público, pro artista, pros críticos e pra tudo. Outra coisa de que eu sinto falta é a liberdade, pois antigamente um compacto eu fazia de um jeito e daqui a pouco fazia uma coisa completamente diferente. O próprio lado B às vezes já era diferente, então não havia aquela obrigação de se ter aquela linha e aquele conceito. Você acaba sendo cobrado, é uma patrulha musical mesmo. É um termo batido, mas não tem outro. É um policiamento que todos passam a ter sobre si, pois você acaba sendo cobrado e condenado a seguir a vida inteira fazendo um formato musical porque “ninguém” vai aceitar se você mudar.
Isso te desestimulou nos anos 90, ou mesmo a partir do final dos anos 80?
Vem me desestimulando há muito tempo. A indústria vai sutilmente… Ou você vira um maldito da música, um marginal no bom sentido musical – tipo Itamar Assumpção, que é uma pessoa que não faz concessões em sua música – e com isso você não entra na mídia e não tem acesso às massas; ou então você se entrega totalmente. No meu caso, eu vivo eternamente lutando e a maioria das vezes eu tenho me sentido derrotado. A minha luta é sempre de querer fazer, de querer criar coisas que estou sentindo na hora, mas um monte de coisas sutilmente te levam pro seu devido lugar. Isso não é culpa de gravadora nenhuma, mas é culpa das gestões das gravadoras – que constantemente estão mudando e sendo remanejadas. Dependendo da cabeça do gestor, ele acaba sutilmente te dirigindo ou te pressionando pro caminho que eles querem… e que ele acha que é o certo. Então, se o cara cismar que você é um cantor romântico, eles vão te cobrar isso. Vão te endereçar de todo jeito, pra você ficar romântico. Se ele for um cara roqueirão brabo, ele vai te endereçar pra isso. Se ele for MPB, vai te endereçar pra MPB. E o meu sonho, que eu ainda não realizei, é o de encontrar uma pessoa – um gestor – que seja isso tudo junto – porque eu sou isso tudo junto. Sabe, eu sou uma das poucas pessoas de minha geração que ainda estou vivo. Eu tenho conhecimento musical variado, então eu me lembro das big bands até hoje. Então eu passei por muitas transformações musicais, muitos ritmos que apareceram, mas com uma vantagem sobre a geração de agora – que quer saber o que foi cha cha cha. Ele vai ouvir um disco de cha cha cha e vai dizer: “Ah, então essa merda é que é cha cha cha?” Ou então vai dizer: “Puxa, o cha cha cha era legal e é bom!” É diferente de ter vivido a época do cha cha cha, porque eu vivi a magia da época. Então as transformações das danças e das pistas de dança, a novidade dos instrumentos nas gravações, os poucos avanços gradativos de tecnologia que aconteceram e que hoje são muito mais rápidos. Hoje você faz algo e o cara diz: “Ah, isso é muito antigo”. Eu acho isso uma babaquice, porque nada é antigo; tudo bem feito e bem gravado é bonito pra caramba. Eu não acho que isso ou aquilo seja antigo, então eu acho que todas estas transformações me fazem um arquivo vivo.
Eu vejo isso quando Joaquim Ferreira dos Santos te chama pra falar no livro dele sobre o ano de 1958, ou quando Reginaldo Farias vai dar uma entrevista autobiográfica pro Canal Brasil e te chama pra mesa.
Certo, certo. Eu sou um monte de informações juntas, eu sou tudo isso. E eu acho um desperdício pra mim mesmo, e uma sacanagem com o público, eu não por isso pra fora e não mostrar as coisas que eu sei. Porque, quando eu morrer, acaba o que eu sei. Então um monte de informações eu deixo de dar.
Você gostaria de dar através da música?
Através da música, que é o que eu sei fazer. Sim, mas e quanto a uma autobiografia, ou um livro de memórias, ou seu site pessoal na Internet? Existem mil maneiras de se externar sua memória, do que nas 12 ou 14 faixas de um CD que você irá lançar, na melhor das hipóteses, anualmente. Não, mas aí primeiramente eu não posso transmitir minha música por um livro. Estou falando da parte musical. Tem um monte de coisinhas nas quais eu fico pensando, achando um desperdício fazer certas coisas e uma besteira fazer outras. Mas, se tem que fazer, eu faço… porque entra a sobrevivência, também. Entra principalmente a sobrevivência.
Você sentiu esta dificuldade de transmitir suas informações nos discos dos anos 80?
Eu tenho sentido…
Você fez disco até 92, e aí você levou quase 10 anos pra fazer este novo disco. Teve até o disco de 96, que é um “projeto”. Você ficou quase 10 anos sem fazer um novo disco. Isso foi em decorrência de alguma decepção?
Não resta dúvida, porque as coisas vão afunilando. Já começou nos anos 80, que não foram muito ricos – muito embora no Brasil nós tenhamos tido o BRock.
Essa geração te sacudiu de alguma maneira, te colocando como um quarentão?
Não propriamente assim, sabe? O que me sacudiu, tentarei explicar, foi que – com o surgimento de várias bandas e de vários cantores – todo o seguimento musical (as cabeças das gravadoras) se voltou pra isso. Esqueceram-se dos outros seguimentos, não cultivando e não dando prosseguimento ao trabalho. Isso é muito bem explicado, e eu posso até de cadeira falar nisso, porque uma das grandes decepções que eu tive na minha vida – depois do final da Jovem Guarda, pelo modo que foi (com o final do programa) – foi eu ser despedido da PolyGram com um simples telegrama. Isso me doeu profundamente.
Você tinha estourado “Buraco Negro” com Close. Depois veio o disco de 85 e ali você, como Gil e Caetano, foi influenciado pelo BRock na produção – apesar da presença do Roupa Nova, que não tem nada a ver. Depois você fez mais dois discos, “Abra Seus Olhos” (86) e “Apesar do Tempo Claro” (88). Você sentiu pressão pra fazer esse disco de 85 com aquela cara de BRock?
Bicho, pressão você sempre tem. Palavras que eu não esqueço dessa década de 80: “Faça uma lentinha pra tocar na 98!” (risos) Isso eu jamais vou esquecer, porque era toda hora. Aí eu passava lá e ouvia: “Tem alguma lentinha pra tocar na 98?” Daqui a pouco, passados 15 ou 20 dias, o cara perguntava: “Cadê a lentinha da 98?” Então, sutilmente, o cara tá te dizendo pra gravar baladão romântico.
E esses discos do final dos anos 80 são bem românticos…
É, mas por outro lado você tinha uns caras bonitos pra caramba fazendo música romântica e isso influi pra caramba. Quando chega um cara como Paulo Ricardo, na frente de uma banda como o RPM, bonito pra caramba, a juventude vai toda. Então a rádio só quer tocar essas músicas. Outras palavras que eu aprendi nos anos 80, e que são frases que a mídia usa: “Não, eu não toco Erasmo porque ele não tem o perfil da rádio!” Essas frases ficam marcadas como símbolos de uma época, né? Então você vai sendo filtrado, eles vão te filtrando e te endereçando… e às vezes você cai numa coisa pra qual você foi levado.
Você sentiu isso quando fez 40 anos? Ninguém reclamou quando vocês fizeram 30 anos, pois haviam se casado e estavam fazendo músicas mais bacanas.
É, mas depois dos 40 já começa a discriminação. Com cinqüenta é jubileu e você ganha homenagens, depois com 60 já está morto! (risos) Com 60 já é o caixão.
Não, o caixão não existe. Ele pode rolar aos 40, porque depois dos 50, 60 e 70 já rolam homenagens. Caymmi fez 80 anos e ganhou caderno especial nos jornais.
É, mas aos 40 já começa a discriminação e você já nota. Outra coisa: as gerações vão mudando também nas diretorias e nas cúpulas. E a geração não viveu o seu início, então te tratam diferente – com respeito, é claro, mas sem a amizade que você já tinha. Então o cafezinho já é em pé, você já não se senta pra contar mentiras e jogar conversa fora. Aí vai passando, vai passando, e daqui a pouco já não tem nem mais cafezinho. Você tem que pedir: “Escuta, não tem um cafezinho ou uma água aí não?” Essas coisas a gente vai sentindo através dos tempos.
E quanto aos anos 90? Após o “Homem de Rua”, você decepcionou-se com o trabalho de divulgação e teve uns azares de percurso. Em 96 você foi convidado a fazer um disco de “projeto” e depois disso foram mais 5 anos até você chegar a este novo disco. Nesse hiato de 5 anos, ou mesmo no hiato de 4 anos anterior, você deixou de fazer disco por não querer aceitar propostas indecorosas?
Eu me sinto um pouco culpado, antes do disco projeto de 96, por não ter feito um disco pioneiro. Como eu sempre sou pioneiro nas coisas, mais uma vez eu tive a oportunidade de ser pioneiro. E por insegurança, ou por pressa do projeto de 96, ou por algumas outras coisas que aconteceram, eu não fiz o que poderia ter sido um disco antológico. Este disco de regravações poderia ter sido antológico, porque a primeira proposta que o Max Pierre fez pra mim era de eu gravar um disco acústico. Nós ouvimos juntos o CD do Eric Clapton e achamos ótimo fazer, mas o acústico não tinha a estrutura que tem hoje. A MTV não estava por trás, mas eu não estou dizendo que seja o formato ideal. Pelo menos a MTV tem popularizado os acústicos.
Mas enfim, eu teria feito o primeiro acústico, só que na época ninguém tinha o domínio da idéia. E, por vários motivos, e pela insegurança e pela pressa, afinal a PolyGram entrou de férias durante a minha gravação. A coisa foi mudando e é aí que eu digo que tenho a minha parcela de culpa, mas a proposta seria essa. Não aconteceu, então acabou saindo um disco que começou a ser acústico e foi aos poucos ganhando um monte de instrumentos – por culpa minha. Tive 500 problemas internos de produção e eu não gosto dele, muito embora tenha sido importante pra mim. O nome é “É Preciso Saber Viver” porque eu descolei uma música antiga, minha e do Roberto, com a qual nada tinha acontecido, mas de repente – por causa desse disco – ela veio e as Titãs a regravaram com grande sucesso. Eu tive grandes frutos desse disco, mas não por ele em si. Pra mim ele foi uma decepção comigo mesmo… e isso me tirou o tesão por um tempo. Isso contribuiu bastante pra minha parada, então comecei a ficar com o pé atrás para com essas propostas. Porque novas propostas de projetos surgiram e eu fiquei tentando entender o porquê de tanto projeto. Um sujeito descola o repertório da Carmen Miranda, pensa em você e quer que você cante aquelas músicas. Umas coisas assim, mas ninguém chega querendo saber de você e de suas músicas – dando oportunidade de você criar. Eu gosto das coisas assim.
Ao mesmo tempo, você também parou de compor.
Parei de compor sim, porque – se o ritmo já está policiado e direcionado – a letra então, nem se fala. Eu gosto de fazer letra espontânea mesmo, sabe? Coisas que não tenham pé nem cabeça, mas de repente não pode… porque tem que ser uma coisa mais direcionada, tem que ser história com início, meio e fim. Tem um monte de cobranças.
Essa cobrança também chegava à parceria Roberto & Erasmo?
Principalmente, porque entre Roberto e Erasmo também existem desavenças e divergências de caminhos e de estilo… e de poesia também. No período em que eu paro de compor, fico fazendo músicas pro disco dele. Então aí ele coordena as músicas do disco dele, daí daqui a pouco todo mundo fica me vendo como um cara do estilo dele. Mas eu não sou, entende?
Então, quando vocês se reúnem pra fazer músicas pro disco dele, vocês só fazem músicas pro disco dele? Vocês nunca se reúnem e resolvem que uma vai pro disco dele e outra vai pro seu?
Nunca, nunca. Estou cansado de dizer isso.
A gente sente a tua parceria nos discos dele, mas não a presença autoral dele nas músicas dos teus discos.
Mas não tem… porque eu realmente faço as minhas músicas, entende? Ele divide letras comigo e eu divido letras com ele. Eu não faço as músicas dele, quem as faz é ele.
Existe a história de Sentado à Beira do Caminho, da qual ele participou decisivamente, mas estou falando destes últimos 20 anos.
Antigamente o resultado final das músicas eu não precisava mostrar pra ele. A gente fazia algumas coisas durante a música e depois eu a acabava em casa, vamos dizer assim. Saía o disco e pronto, mas de um certo tempo pra cá o resultado final tem que ser mostrado. Aí é que vem as discordâncias. Posso te citar um exemplo: se eu quiser matar um personagem na música, ele não vai gostar disso. Aí eu vou ter que assinar sozinho, porque ele não vai querer participar da música. Hoje em dia ele quer saber de tudo, então tá bem nessa base mesmo. Quer saber se o personagem é mau, se tem vícios e se morre no fim. Se tiver isso, nem precisa consultar. Eu tenho que assinar sozinho. Então tudo bem. Se é assim, é assim. Do jeito que for, é.
E em termos de futuro, vocês estão pensando em se juntar pra fazer música de repente pro próximo disco dele?
Bom, eu continuo pensando sempre que sim. Da última vez em que estivemos juntos, ele disse que quando lançasse o “Acústico” me ligaria pra gente ver nossas agendas e marcar os dias, pra gente pensar no disco de fim de ano. Então tudo bem, eu tô seguindo minha vida. De repente não tem o disco de fim de ano, caso ele resolva diferente por algum motivo. Estou seguindo minha vida, não estou parado pra pensar nisso não. Mas já parei pra pensar nisso, já parei muito pra ficar pensando nisso. Hoje em dia eu não penso mais, hoje em dia eu sigo a minha vida mesmo.
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