Mundo da Música

Cadê o Paul, pelo amor de Deus?

Por Aletheia Vieira
Autora da coluna
“Nowhere Woman”
 
É o seguinte. Acordei com um telefonema na semana passada. Era uma amiga. Nos chamamos de mana, um apelidinho comum no Pará. Eu em Brasília, ela em Belém.
 
– Mana?
– Oi. (acordando). Oi.
– Mana. Tu deve ter se preparado, né?
– Pra quê?
– Pro show do Paul McCartney. Ele vem pro Brasil!
– Hã?
 
Apertei meu braço para constatar que eu não estava sonhando. Eu tava acordada. O mundo, pelo menos, era real.
 
– Mana, eu preciso lavar o rosto e tomar um chá preto. Eu te ligo já.
 
Abri a janela com a caneca na mão. Paul no Brasil em novembro. Deve ser boato, pensei. Tomara que não, pensei. Tomara que não, pensei de novo.
 
De cara, preferi não acreditar na história. Depois do papo que o Paul viria tocar nos 50 anos de Brasília ser mentira, eu fiquei meio cética. Liguei o computador para procurar a tão sonhada notícia. Achei. Alguns sites diziam ser rumores. Jornais do Chile e da Argentina afirmavam que produtores do Paul estavam procurando as locações para o show, uma turnê na América Latina que poderia incluir o Brasil e o Peru.
 
No Twitter, foi o comentário do dia em minha timeline. Todos os meus amigos roqueiros pareciam radiantes. Principalmente um, meu ex-chefe no jornal “Diário do Pará”, o jornalista Gerson Nogueira. Ele estava convicto. Paul viria ao Brasil ou a algum país limítrofe e ele já tava juntando os trocados para ir. Onde quer que fosse.
 
Comecei a acreditar. Se os produtores do Paul estavam procurando locações poderia sim ser verdade. Decidi que iria ao show junto com o Gerson. Ele é meu pai beatlemaníaco adotivo. Ele topou.
 
Liguei pra minha mãe.
 
– Mãe, parece que o Paul vem pro Brasil.
– Ele vai cantar “Hey Jude”?
– Vai, mãe. Claro.
– É minha preferida. Mas é verdade? No aniversário de Brasília…
– Dessa vez parece que é certo. Eu quero ficar bem na frente, quero vê-lo bem de perto. Se ele vier, deve ser a última vez.
– Quantos anos ele tem?
– Ele é de 42… Bem, 68. Vai fazer 70…
– Tu acha que ele vai morrer antes?
– Mãe… ele não pode morrer… (quase chorando)
– Ele é saudável. É vegetariano. Não vai morrer tão cedo.
 
Aí começou outra angústia. “E se ele morrer sem eu nunca tê-lo visto?”. E se eu morrer? Sim, eu posso morrer antes dele.
 
(“Sopro do infinito” no meu ouvido)
 
– Mas lá no céu, o George e o John podem tocar pra ti, boba!
– Esquece, “Sopro do Infinito”, esquece.
 
Entrei no site Beatles Brasil e lá estava, bem na capa: “Paul nega turnê na América Latina”. Chamei o Gerson no Google Talk.
 
– Não é verdade, Gerson.
– É sim.
– Tá no Beatles Brasil, não é verdade. Vou acionar o Marco Antonio Mallagoli. Ele deve saber mais coisas.
 
Fui atrás do nosso editor do Beatles Brasil, José Carlos Almeida, pedi o email do Mallagoli. Toda sem-graça, mandei uma mensagem pro nosso maior beatlemaníaco. Sem-graça e nervosa. Quem diria. O cara da revista “Revolution”, da minha adolescência. Eu ia falar com ele.
 
Mallagoli respondeu. “Por enquanto são só boatos, Aletheia”.
 
Respirei fundo, fiquei em silêncio. Um silêncio comigo mesma. No meu pensamento só ouvia uma frase, repetidas vezes: “Let it be, let it be, let it be, let it be…”
 
Google Talk. Dia 10 de setembro de 2010.
 
Aletheia: Paul não vem. Falei com o Mallagoli. Tudo boato.
Gerson: Não vem? Nenhuma chance?
Aletheia: Nenhuma, nenhuma.
Gerson: Putz, vou ter que ir a Londres mesmo
Aletheia: Eu também.
 
Audrey, prepara os sacos de dormir.

 

Para a minha mãe:

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Jose Carlos Almeida

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