O impacto da Jovem Guarda no Rio Grande do Sul deu origem a uma verdadeira cena local de bandas inspiradas nos ídolos nacionais. A movimentação era impulsionada por programas de rádio e televisão que divulgavam a novidade do momento.
Algumas bandas ousaram se aventurar por São Paulo e Rio, como Os Brasas e Os Cleans, mas a maioria se manteve restrita ao circuito de bailes porto-alegrense. O que não era pouca coisa. Cada clube contava com três ou quatro bandas por noite. Era assim o contato entre os músicos: quando uns chegavam, outros davam tchau.
Foi o início do rock cantado por aqui. Até o estouro da Jovem Guarda, no início dos anos 1960, o circuito de bailes era animado principalmente por bandas instrumentais, como Flamboyant e o célebre conjunto de Norberto Baldauf.
— Tínhamos até medo de tocar perto desses caras, que eram brilhantes — lembra Zé Roberto, ex-integrante d’Os Cleans e um dos pioneiros da guitarra em Porto Alegre.
O estouro da Jovem Guarda, na verdade, vinha na esteira de um fenômeno de proporções ainda maiores: a beatlemania.
O músico e radialista Mutuca explica:
— Em Porto Alegre, os grupos chamados de “conjuntos” vinham de antes da Jovem Guarda, com uma visão própria do rock americano. Quando a beatlemania chegou, surgiu a Jovem Guarda em São Paulo. Ao mesmo tempo, em Porto Alegre, os músicos faziam sua própria leitura do movimento mundial.
Os Brasas foram provavelmente a banda mais bem-sucedida do iê-iê-iê gaúcho, tendo lançado, em 1968, um LP que levava o nome do grupo, relançado em CD em 2009. Acompanharam, em estúdio, nomes como Wanderléa, Vanusa e Antonio Marcos.
— Fomos para São Paulo em 1966. Porto Alegre tinha se tornado pequena para nós – relembra Luis Vagner, ex-integrante d’Os Brasas que depois enveredou com sucesso pelo samba-rock em carreira solo.
— Em São Paulo, começamos a desenvolver uma carreira. Depois fomos para o Rio. De 1969 para 70, um produtor perdeu a fita do que seria nosso segundo disco e aquilo nos abalou. Resolvemos nos separar e seguir em carreiras individuais.
Os Cleans também tinham abandonado o barco. É que os tempos começaram a mudar, e o iê-iê-iê deu lugar a outros sons. Zé Roberto é quem conta:
— Nadamos, nadamos e morremos na praia em São Paulo. Depois de enfrentar dificuldades em todos os aspectos, nos abrimos para o que estava acontecendo. Incluímos teclados e sintetizadores e começamos a atacar com covers de Yes, Led Zeppelin.
Na avaliação do jornalista e pesquisador Gilmar Eitelwein, a Jovem Guarda gaúcha não chegou a ter uma cor local:
— A cena local foi uma cópia de um movimento nacional, poucos se aventuraram a criar. Entre esses poucos, estiveram Os Brasas, que começaram a compor e foram ao centro do país.
Criado em meio àquela efervescência, o baterista Edinho Espíndola — que depois integrou o Liverpool e o Bixo da Seda — recorda o espírito daqueles tempos:
— Lembro das festas lotadas, todo mundo usando calça boca-de-sino, as golas exageradas. Tinha gente que não curtia, que se chocava com aquela aparência. Mas não vejo com antipatia. As pessoas apenas queriam ser Roberto Carlos.
Fonte: Zero Hora
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