”Foi uma grande surpresa, até porque nem sabia que estávamos indicados”. Um atônito Marcelo Fróes, 51, parece não acreditar ainda na honraria concedida a seu selo, a Discobertas, agraciado, no último dia 11, na categoria Projeto Especial, do Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes). Um troféu que coroa não apenas os dez anos completados pela gravadora, mas também o esforço de duas décadas e meia de garimpo e resgate musical do produtor, pesquisador, escritor e advogado nascido no Rio de Janeiro e sempre ávido a colocar no mercado preciosidades da MPB quase esquecidas pelo tempo.
O fato se torna ainda mais impactante para Fróes por se tratar de uma reverência bastante peculiar. “Como não existe essa categoria em outros prêmios da música, é o primeiro que ganhamos e considero um presente pelos nossos dez anos. Que sirva para estimular quem ainda acredita no formato físico (disco)”, afirma o dono da Discobertas, feliz também com a repercussão. “Foi uma surpresa geral, basicamente. É a confirmação de que trilhamos um caminho certo”, diz.
Desde sua criação, a Discobertas lançou centenas de discos e caixas de vários artistas da música brasileira, incluindo raridades e álbuns tirados do estado de ostracismo. Em outras palavras, Fróes conseguiu resgatar obras concebidas por nomes como Jackson do Pandeiro, Pery Ribeiro, Wanda Sá e Ângela Maria – transportando-as para o formato CD – além de registros históricos de ícones como Gilberto Gil e Gal Costa.
“Faz 25 anos que comecei a pesquisar nos arquivos das gravadoras. Na época, o trabalho foi visto como inovador, pelo mercado e pela mídia, e eu tive muitas portas abertas. Trabalhei com todas as gravadoras nos anos 90, defendendo as boas reedições e o resgate de raridades. E fiquei numa posição privilegiada, porque montei um estúdio com equipamento vintage para rodar os diferentes tipos de fitas dos anos 50 a 80”, relata ele.
Com esse retrospecto, o caminho para o nascimento da Discobertas foi cimentado – embora, inicialmente, não estivesse nos planos de Fróes.
“Os anos 2000 foram difíceis desde o começo, com a crise começando a bater à porta das gravadoras. Os projetos começaram a bater na trave e um presidente (Marcelo Castello Branco, ex-presidente da EMI), me sugeriu abrir um selo, algo que não pensava em fazer, mas que efetivamente acabou nascendo em 2007, há exatos dez anos”, conta.
Satisfação. Não faltaram empecilhos durante a caminhada com a Discobertas até o reconhecimento da APCA neste mês de dezembro. “A maior dificuldade, às vezes, é viabilizar o resgate de determinadas discografias, pelo simples fato de o formato físico não mais interessar às grandes gravadoras. Por outro lado, como temos uma fábrica e uma equipe de vendas que abraça nosso trabalho, o maior privilégio é estar sempre oferecendo algo para alegrar as pessoas”, ressalta o produtor, que, apesar de seu trabalho, não se considera um “guardião da música brasileira”.
“Os guardiões são as grandes gravadoras, que possuem em seu ativo os registros que compõem a história de nossa música. A Discobertas tenta prestar um serviço ao mercado e à memória”, define esse eterno descobridor da música brasileiras.
Propagador da MPB
Existe algum disco que você tem como “xodó” nesse resgate de raridades e por quê? Todos são sempre especiais, porque só lanço disco que eu compraria se outra gravadora lançasse. Mas os discos de Gilberto Gil e de Zé Ramalho que lançamos são sempre especiais, porque nesses mais de 20 anos eles sempre foram muito marcantes na história dos meus projetos.
Como é a vida e o papel de um pesquisador atualmente? Quando comecei, era mais braçal. Eu tinha que ir atrás de fitas, bibliotecas, fichários etc. Hoje essas coisas estão trancafiadas. E o jovem pesquisador se vira com Google, listagens etc. Era bem mais emocionante!
Fale um pouco da editora Sonora, que é outra de suas empreitadas. É possível traçar alguma relação com a Discobertas? Sou o sócio editor (da Sonora), era algo que eu queria fazer há muito tempo, desde quando editei um tablóide de música entre 1994 e 2009. A relação com a Discobertas é natural, vender livro e CD é um bom caminho. Relançamos (recentemente) o livro “Paz, Amor e Sgt Pepper”, do quinto beatle George Martin, que eu havia traduzido em 1995. Como eu o conhecia, procurei seus herdeiros e licenciamos o livro para lançar no aniversário de 50 anos do LP dos Beatles.
Quais seus projetos futuros e o que podemos esperar da Discobertas para 2018? Temos reeditado discos em parceria com a Som Livre e agora em 2018 temos boxes muito bacanas saindo. Em 2017, a Discobertas entrou para o mercado de vinil, lançando em parceria com a Novodisc álbuns prensados em 180g. Já lançamos cerca de dez títulos e há muito por vir no ano que vem.
Fonte: O Tempo
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