Jovem Guarda

Álbum resgata obra de Evaldo Braga

Disco “Sempre” relança Evaldo Braga. O cantor teve uma ascensão meteórica e faleceu precocemente num trágico acidente, no auge da carreira, em 1973, aos 27 anos

Grandes sucessos como “A cruz que carrego”, “Só quero”, “Sorria, sorria”, “Eu não sou lixo” e “Meu Deus” retornam na coletânea “Evaldo Braga – Sempre” que é recheada de 14 canções românticas, todas com temática que envolvem as relações afetivas entre homem e mulher. Nelas, a potente voz do cantor reforça ainda mais o fio condutor das mensagens das letras, fator que fortalece ainda mais os apelos para que a canção se torne realmente popular. Todas pautadas com refrões de versos simples e rimas fáceis que permitem uma linguagem direta e arranjos sempre ilustrados por um naipe de metais, guitarras choronas e melodias assobiáveis logo a partir da primeira audição.

Compositor

Das 14 faixas, 13 são de autores contemporâneos como o próprio Evaldo Braga, que assina suas parcerias com Carmem Lúcia, Pantera, Alcides de Oliveira, Cesar Saraiva da Silva e Isaías de Souza, além de outros autores do porte de Osmar Navarro, Edson Mello, Carlos Odilon, Jacy Inspiração, Marcos Lourenço e a dupla Jovenil Santos e Paulo Debétio. A exceção é a canção “Noite cheia de estrelas”, de Cândido das Neves, conhecido na MPB com o apelido “Índio”, registrada originalmente pelo tenor Vicente Celestino.

No CD “Evaldo Braga Sempre” consta um música que foi uma espécie de mensagem que reflete a curta carreira do cantor. Trata-se de “A vida passando por mim”, da dupla Jovenil Santos e Paulo Debétio, este, também produtor do artista. Debétio conta que “quando ele canta ´que o amanhã fosse o começo do meu fim´, inconscientemente, estava praticamente se despedindo da vida”. “Como o Evaldo não tinha família, seu motorista era o melhor amigo. Os dois bebiam juntos e, como ele não ouvia os amigos, creio que isso foi o único erro de sua vida e foi fatal”, afirma.

Paulo Debétio
O pernambucano, radicado no Rio de Janeiro, Paulo Debétio foi um dos produtores do segundo disco de Evaldo Braga e pilotou o projeto “Eu ainda amo vocês”, álbum póstumo com as interpretações do cantor, somadas em duetos com grandes nomes da música romântica como Carlos Alberto, Matogrosso & Mathias, Jerry Adriani, Adílson Ramos, Diana, Ismael Carlos, Waldick Soriano, Sol, Carlos Alexandre e Fernando Lelis, além dos grupos vocais Canarinhos de Petrópolis e o Coro da Funabem.

Anualmente, desde a década de 80, a gravadora Polygram (atual Universal), na qual Evaldo Braga registrou a maior parte de suas interpretações, lançou, com sucesso de vendas, coletâneas do artista. Aproveitando essa onda, em 1987, o então produtor Paulo Debétio, graças ao “milagre” da tecnologia da época, produziu o disco “Eu ainda amo vocês”. Ele explica como foi o processo: “Tirei a voz do Evaldo dos discos originais e reaproveitei com novos arranjos e regências do Júlio César Teixeira, que também tocou todos os teclados. Chamei para o estúdios os músicos Téo Lima na bateria; Jamil Joanes no baixo; Carlinhos Calunga na guitarra e Barney na percussão e convidei vários artistas do ramo, para cantar”.

Sobre o resultado final do álbum, Paulo Debétio avalia que, “apesar de ter dado muito trabalho, por conta de, na época, ainda não termos o metrônomo, que marca o ritmo da música, foi prazeroso. Como o Evaldo cantava muito com a emoção e muitas músicas ele já começava cantando lá em cima, tivemos dificuldades em algumas vozes dos outros artistas. Mas, é um disco maravilhoso”. Para o produtor, Evaldo é um desses artistas populares que certamente faria sucesso até hoje, se não tivesse morrido precocemente. “Guardando as devidas proporções, ele foi um artista verdadeiro e deixou a sua marca como também deixaram Raul Seixas, Elvis Presley e os Beatles”.

Na capa do disco, Paulo Debétio profetizou a arte de Evaldo Gouveia. “Um dia, numa esquina desta vida, onde as pessoas se encontram para falar de planos, sonhos e fantasias, por lá passou um jovem sonhador, que tinha como missão cantar. Poucos quiseram ouvir a sua música, pois ele com aquele agudo forte e penetrante, deixava as pessoas atordoadas…Cantar é sua missão, mesmo que a vida lhe tenha negado a continuação desse direito. Enquanto houver uma criança, um amigo, uma saudade, lá estará para cantar, cantar, cantar e cantar… Ele não morreu, está vivo no coração de todos nós”.

Trajetória

O cantor e compositor Evaldo Braga nasceu em 28 de setembro de 1945, em Campos de Goytacazes (RJ), e faleceu em 31 de janeiro de 1973, em Três Rios (RJ), na BR-3 estrada que liga a Cidade Maravilhosa ao município de Juiz de Fora, em Minas Gerais. Começou sua carreira artística na segunda metade da década de 60. Iniciou sua carreira como divulgador de discos, emprego que conseguiu através do cantor Nilton César, que se tornou conhecido na música popular brasileira interpretando, entre outras músicas, “Professor apaixonado” e “A namorada que sonhei”.

Depois, já como compositor, a parceria de Evaldo Braga com Reginaldo José Ulisses “Areia no meu caminho” foi registrada com sucesso em 1968, pelo cantor Edson Wander. Isso permitiu ao então novato no ramo, conhecer o experiente compositor e produtor Osmar Navarro, do qual recebeu o convite para gravar, além de oferecer duas músicas inéditas, “Mentira” e “Eu amo a sua filha, meu senhor”, na então gravadora, Polydor. Depois, começou a cantar em discos e virou lenda, sendo um dos personagens do livro “Eu não sou cachorro não”, de Paulo Cesar de Araújo.

Relançamento
“Sempre”
Evaldo Braga
R$ 14,90
2011
14 faixas
Som livre/Universal
Coletânea que mescla músicas incluídas nos dois discos lançados no início da década de 70 pelo cantor e compositor do estilo brega black, Evaldo Braga

NELSON AUGUSTO