Jovem Guarda

Erasmo diz que aprendeu a cantar com João Gilberto

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Erasmo era o bad boy da Jovem Guarda, o que para mim significa ser ele o verdadeiro pai do rock brasileiro”. Quem diz, ou melhor, quem escreve, é Rita Lee, a bad girl no rock tupiniquim. O que é verdade. Erasmo, vulgo Tremendão, era a ovelha negra de uma turma que vendia a imagem do bom-mocismo. Ele era o cara da jaqueta de couro, do cabelo comprido e composições espertas que deram ao rock brazuca uma característica única. Nascido na Tijuca, subúrbio da zona Norte do Rio de Janeiro, ganhou fama e fortuna como o eterno parceiro do Rei Roberto Carlos. São mais de 500 composições da parceria mais bem-sucedida da história da música brasileira.

Mas se Roberto bandeou-se para um romantismo desmedido a partir do final da década de 1970, Erasmo manteve-se fiel às raízes. Ou quase, já que nos anos 80 abraçou a música pop para poder voltar às rádios. Antes, foi responsável por pelo menos uma obra-prima: o disco ‘Carlos, Erasmo’, lançado em 1971 e que surpreendia por misturar rock, soul, samba e psicodelia.

Coqueiro Verde
Um dos raros sucessos desse álbum, “Coqueiro Verde” tornou-se o nome de sua gravadora. Sim, Erasmo é um legítimo artista independente que lançou ano passado seu disco mais recente: “Rock’n’Roll”, só de inéditas. O CD já é considerado por muitos um renascimento, uma obra que exala verdade, com arranjos simples e eficientes. Um dos destaques do disco é a faixa “Cover”, na qual o Tremendão fala de si mesmo: “Sou um cover que imito até o meu autógrafo/ Diferente de tantos de norte a sul/ Covers de Roberto ou de Elvis/ Michael Jackson, Beatles e Raul”. “Sou geminiano, então sou dois”, diz em entrevista por telefone, ao explicar seu amor por Elvis Presley e também pelo bossa-novista João Gilberto.

Erasmo se apresenta no dia 18 na esplanada do Theatro Pedro II durante a Feira do Livro. Ou seja, um dia antes do amigo e camarada Roberto Carlos fazer um show no Estádio Santa Cruz, no aniversário de Ribeirão Preto. “Não sabia que ele estaria aí. As pessoas acham que eu falo com o Roberto todos os dias. E a verdade é que a gente quase nunca se vê”, revela o cantor que também vai lançar em Ribeirão seu livro “Minha Fama de Mau”, em que conta fatos marcantes de sua vida. Mas ele avisa, não é uma autobiografia. “Esse negócio de biografia é pra quem já morreu”, ressalta.

Erasmo, por que seu novo CD chama-se ‘Rock’n’Roll’. É uma espécie de carta de princípios?
São minhas raízes, né? E há muito tempo eu estava devendo um disco de rock, com guitarras, sem teclados e estas coisas todas. O tempo acabou me levando para algo mais pop e eu estava com saudades de fazer rock.

E esse disco tem parcerias com compositores mais jovens. Você acompanha a nova geração do pop rock nacional?
Ah sim, estamos todos no mesmo bolo. Não costumo ter preferências, mas gosto de música. Todo artista tem uma ou duas músicas que realmente gosto. Só o João Gilberto eu gosto de tudo. Mas estou sempre antenado, ainda mais hoje em dia com a internet. Só acho que os novos ainda não mostraram serviço. Só presto atenção quando o artista tem mais de dez anos de carreira.

Você falou do João Gilberto, que era uma unanimidade entre você, o Tim Maia e o Roberto Carlos. Acredita que seu estilo de cantar é uma mistura de Elvis com o João?
Eu aprendi com o João Gilberto a não tremer a voz. A cantar reto. Você vê que ele não treme a voz. Canta afinado e reto. Eu recebi as duas influências na mesma época [Elvis e João]. Sou um compositor brasileiro e sofro influência dos ritmos brasileiros, claro. Fui criado ouvindo samba, big bands, ópera, mas o rock me arrepiou de uma maneira diferente. Assim como a bossa-nova. Sou geminiano, isto é, sou dois, e esses dois Erasmos convivem numa harmonia muito legal.