Roberto Carlos voltou atrás. O cantor negou, no último fim de semana, no Rio de Janeiro, em entrevista no navio onde realiza seu cruzeiro anual, que tenha a intenção de recolocar no mercado seu álbum de estreia.
“Louco por Você” foi lançado originalmente em 1961 e teve toda e qualquer reedição embargada pelo cantor. A decisão do relançamento havia sido confirmada na semana passada por membros da equipe de Roberto e pela gravadora Sony Music. “Existe a intenção de remasterização do áudio e relançamento, sim, mas ainda não temos maiores detalhes”, disse, na quinta-feira passada, a assessoria da empresa.
Nos últimos dias, porém, as coisas aparentemente mudaram de figura. Para fundamentar sua decisão, Roberto disse que a qualidade de som do disco é muito ruim, incompatível com o que as pessoas estão acostumadas a ouvir hoje. “Ainda não é o momento (de relançar o disco)”, disse. E acrescentou que vai esperar um avanço da tecnologia a fim de “melhorar” a qualidade do som do álbum.
A discussão sobre “Louco por Você” voltou à tona no começo da semana passada, quando foi descoberto que suas faixas estavam à venda na iTunes Store, loja virtual da Apple. Procurado para comentar o fato, Roberto disse, por meio de assessores, que estava notificando a empresa. Também na quinta, a Sony afirmou que a disponibilização do disco no iTunes fora “um engano já resolvido”, e o arquivo foi retirado da loja.
Na entrevista, no entanto, Roberto falou apenas de modo genérico sobre o possível impacto da chegada da loja virtual da Apple no país. Disse considerar o serviço de vendas pela internet “positivo”, ao permitir o acesso imediato a uma quantidade grande de pessoas. “[A música] Chega mais rápido ao público”, disse.
Ruim
Roberto Carlos ouviu “Louco por Você” e não gostou. Baixa qualidade técnica – nada a ver com questões estéticas, históricas ou pessoais. É assim que o cantor diz. Se considerarmos que foi esse mesmo o motivo da renovação do embargo, o caso deixa de ser uma das “excentricidades” do Rei – como ainda soa excêntrica a longa proibição que vigorou, por convicções religiosas, sobre a canção “Quero que Vá Tudo pro Inferno”. Torna-se uma questão de “controle de qualidade”. Algo como o embargo de João Gilberto sobre seus três primeiros discos, pedras fundamentais da bossa nova.
A interdição de Roberto não impedirá que os curiosos por sua história conheçam o álbum. Ou alguém deixou de ouvir João cantar “Chega de Saudade” na versão original?
Em LP, há poucas cópias de “Louco por Você” disponíveis no mercado. E, caso você encontre uma por menos de R$ 3.500, compre: elas só tendem a valorizar com a repercussão desse novo embargo.
Mas há dezenas de blogs especializados que disponibilizam suas 12 faixas para download em qualidade razoável – ainda que, como se sabe, essa prática seja proibida por lei. Não é proibido, porém, comprar a versão disponível na loja virtual Amazon – em formato mp3, com o nome de “Early Roberto”. O rei ainda não passou por lá. Ainda.
Mentirinhas
Roberto Carlos não aparece na capa de “Louco por Você”. A foto foi roubada de um disco do organista americano Ken Griffin, em que um casal apaixonado se olha. Segundo Paulo César de Araújo conta na biografia “Roberto Carlos em Detalhes” – que o cantor proibiu e não pretende liberar, como reafirmou na mesma entrevista no Rio – o produtor Carlos Imperial usou “truques” para que o LP emplacasse entre o público jovem.
De acordo com o texto de contracapa de “Louco por Você”, Roberto teria nascido “aqui mesmo no Rio”, e não em Cachoeiro do Itapemirim (ES), para que o cantor soasse mais próximo. Imperial também inventou um Bill Caesar para assinar a “versão original” da canção “Linda”. Na verdade, não havia original. A música era brasileiríssima – com letra do próprio Imperial – e só foi creditada ao falso autor americano porque era com versões, como “Estúpido Cupido”, que o rock brasileiro explodia naquele começo de anos de 1960.
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