Fábio Jr.



Como muitos artistas revelados nos anos 70, o cantor e compositor Fábio Jr. tem suas origens nos anos 60 - quando participou do finzinho da Jovem Guarda no programa "Mini Guarda", da TV Bandeirantes. Em entrevista a Marcelo Fróes, realizada em sua casa em Alphaville (SP) no dia 22 de junho de 2005, ele lembra de detalhes preciosos dos velhos tempos.
Você começou com a Mini Guarda, não?
Sim, na TV Bandeirantes. Havia a Jovem Guarda na TV Record... e a Mini Guarda na Bandeirantes, com Ed Carlos... que era afilhado artístico do Roberto. E eu sempre fui fissurado em música, tinha 11 anos e já ficava em casa, diante da televisão, sem tirar a mão do seletor de canais. Botava em tudo quanto era programa de música na TV. E havia muito concurso, pra quem quisesse se tornar cantor. Antes da Mini Guarda, havia um programa chamado Programa Preparatório para o I Festival da Música Infantil. Foi ali que eu conheci Mário Marcos, que é meu parceiro até hoje. Antônio Marcos também começou na Mini Guarda, com Os Iguais. E tinha também os Caçulas, que faziam vocal pro Antônio Marcos. E aí, tudo que concurso que tinha, eu ia fazer teste... e me aprovaram pro Mini Guarda. Durou um ano, no finzinho da Jovem Guarda em 1968, depois o cara me deu um pé na bunda. O cara falou: "Pára com isso, que você é uma merda!" Eu tinha 13 anos quando o cara falou isso pra mim: "Você é uma bosta", ele falou assim. "Esquece esse negócio de cantar, que você é uma bosta!" E aí em 1969 eu fui fazer o Teleteatro Cacilda Becker, também na Band.

Você estava em fase de mudança de voz, não?
Sim, mas a questão é que eu tinha 13 anos de idade... e a cabeça parecia uma lâmpada. Mas aí ele falou: "Mas olha, estão fazendo um programa de dramaturgia aqui na casa... vai lá!" E aí, a primeira coisa que eu fiz como ator na vida, foi com Cacilda Becker! Ela era o que a Fernanda Montenegro é hoje, para o teatro brasileiro. Eu fiquei um tempo ali e quem dirigia, como nada é por acaso, era o Walter George Durst. Aos 16 anos, eu fui fazer um especial na TV Cultura com Paulo Autran - chamado "Um Pássaro em Meu Ombro". Entre 1973 e 1975 eu fiz Uncle Jack e Mark Daivs e em 1975 veio o "Aleluia" na TV Tupi. Era um programa com Silvio Brito.

Mas e quanto aos Namorados?
É mesmo, eu fiz isso aos 15 anos - quando, em 1970, saiu o compacto com Rio Amarelo, versão do Arnaldo Saccomani para Yellow River no lado A. Christie estava estourado, com a versão original. Éramos só nós três - meus irmãos e eu, né? Era um grupo vocal, a gente só gravou... Nunca fez show, porque ninguém sabia que a gente existia... (rindo) Meu pai que levava a gente, pra cima e pra baixo. Ele conheceu o Arnado Saccomani e ele contratou a gente pra Polydor.

Ele trabalhava com Ronnie Von...
Isso, isso! A gente fez vocal pro Ronnie Von, bem lembrado. Ele gostou da gente e pescou. Com certeza a gente está num daqueles LPs de 1969 ou 1970, fazendo vocal em algumas...



O que aconteceu com aquele primeiro compacto dos Namorados?
Nada...

Mas vocês ainda fizeram um segundo.
Sim, e me pergunta o que foi que aconteceu! Nada, também! (rindo) A gente fazia muito cover também, naqueles discos de cover que o Arnaldo produzia.

E aí o grupo acabou?
Não exatamente, virou Grupo Arco-Íris com a entrada da Malu... A gente passou um bom tempo cantando por aí, onde desse... Mas nada acontecia. Meus irmãos se desencantaram, os Namorados acabaram e pouco depois a gente se reuniu com a Malu, que era filha de amigos do meu pai. E aí veio o Uncle Jack, banda que acompanhava o Pete Dunaway. Eu fazia backing vocals, aí já rolava muito show.

Uncle Jack foi a primeira experiência em inglês.
Sim, mas o Uncle Jack era na verdade uma banda. Otávio Augusto, o Pete Dunaway, foi muito generoso comigo. Ele viu que eu estava dando certo como vocalista na banda e, num compacto dele, do outro lado rolou meu lançamento com o Uncle Jack. Era ele do lado A, e eu do outro lado. Logo depois a banda acabou e eu virei Mark Davis. Mas eu não falava nada em inglês...

E aí, também não dava autógrafo de Mark Davis às fãs?
Até dava, mas não podia falar nada... porque ninguém falava uma palavra de inglês. Era tudo de óculos escuros e rápido...

Mas o inglês do Mark Davis é bacana.
A gente fazia as letras de meia boca... Don't Let Me Cry foi a primeira que eu fiz... pra Martinha, que era uma mulher pela qual eu era apaixonado e que morreu no incêndio do Joelma. Se você pegar a letra, dá pra ver que é. Virou parceria com o Pete Dunaway, porque ele era meio sócio do Caion Gadia. A gente fazia música assim, o Caion Gadia ia pra sala dele na Tupi Difusora, onde ele era diretor artístico, com um dicionário debaixo do braço. "Together rima com o que? Com forever, então vamos fazer assim..." Coisas fáceis, porque virou moda em São Paulo todo mundo gravar em inglês. Todo mundo se apresentava cantando em inglês na TV, o Chrystian tava estourado etc... e a gravadora começou a pressionar, para que eu fizesse divulgação: "O Mark Davis não vai aparecer?" Eu falei: "Não! Eu componho, tenho meu trabalho em português e quero aparecer como Fábio, pô! Como Mark Davis eu não vou fazer nada!" Eles ficaram putos.

Você nem está na capa do LP...
Sim, mas tem muita gente que pensa que o surfista sou eu... (risos) Como a foto está bem de longe, ainda dava pra dizer: "Isso aqui foi um momento meu, quando eu morei no Havaí!"

Qual a história deste LP?
Foi uma sequência natural, porque o Don't Let Me Cry explodiu... e eles perguntaram: "Quem é esse menino aí, o Mark Davis? O Fábio? Vamos fazer um LP do Mark Davis, porra!" E aí, quando eles viram que o bicho pegou mesmo, eles falaram: "Agora você vai assumir e vai fazer programa de televisão!" Eu falei "não"... Eles insistiram: "Pô, a gente tem um contrato aqui e você está indo bem!" Eu respondi: "Temos contrato? Vamos fazer um disco em português!" Os caras ficaram meio assim, mas acabaram fazendo... e aí é que saíram aquelas de minha parceria com Paulo Coelho, músicas que já estavam prontas e vinham se acumulando. Ele deu uma acertada nas letras e virou parceiro em quase todo o LP.

Como foi este disco?
Fiz muito programa de televisão, mas show ainda não. Como ator, eu já estava fazendo muita figuração em novela. Quando o "Aleluia" acabou, por falta de grana, foi punk. O Walter George Durst, com quem eu tinha trabalhado lá atrás, estava escrevendo uma novela pra TV Globo e lembrou de mim. Olha que coisa maluca, anos depois. Por acaso o telefone ainda era o mesmo, porque eu morava no mesmo lugar. Um dia tocou o telefone e era ele: "Fabinho, lembra de mim? Ó, eu tô fazendo uma novela pra TV e o Avancini é que vai dirigir. Eu pedi pra ele deixar um personagem em aberto, que eu queria levar um ator de São Paulo. E eu pensei em você, você topa?" Eu falei: "É pra já!" Era uma questão de visibilidade, eu tinha que fazer alguma coisa! Foi uma novela das dez chamada "Nina", que tinha uma equipe de cinema e eu me travestia... porque a equipe era muito pobrezinha e todo mundo tinha que fazer tudo. Novela de época...

Foi ali que você teve que cortar o cabelo.
Sim... e foi foda. Eu tinha um cabelão, tive que cortá-lo, fazer permanente... e ainda me vestir de mulher. Quase pirei, né? Mas eu falei "tudo bem, ninguém me conhece ainda" (rindo) Depois de Nina eu fiz o filme "Bye Bye Brasil" e em seguida a mini série "Ciranda, Cirandinha" (78). Foi tudo mais ou menos na mesma época, e no "Ciranda" aí todo mundo já conhece... porque entrou a música Pai, que a Janete Clair ouviu e pegou pra trilha da novela que estava preparando. Foi uma surpresa que o Daniel Filho fez pra mim também, porque eu não esperava que ele fosse colocar.

Por que?
Porque já tinha rolado um episódio do "Ciranda" baseado na letra da música. Eu já me sentia homenageado pra caramba.

Mas você ainda não tinha gravado a música, na verdade você ainda não tinha sido contratado pela Som Livre.
A música explodiu e eu fiquei louco, porque eu queria cantar, queria gravar e fazer show. Um dia entrei na sala do Boni e lá estavam também Mário Lúcio Vaz, Borjalo etc. Eu tava cheio de fitas e discos de Mark Davis, Uncle Jack, Os Namorados etc. "Olha aqui, cara, eu preciso cantar... senão fico louco!" Ele respondeu: "Mas você tá fazendo a novela, garoto!" E eu insisti: "Mas eu quero cantar, pô!" Enchi tanto o saco, que pensei que minha carreira ia acabar ali. Eu lembro até hoje, ele foi para um sofá num canto e ligou pro Guto Graça Mello: "Sabe esse moleque? Ele é um pentelho, meu Deus do céu!" Gravei a música Pai, que entrou pra novela e pro disco da novela... e acabei sendo contratado pela Som Livre, onde fez dois ou três LPs antes de seguir pra CBS.

Como foi essa fase de discos e novelas?
Foi puxado, velho... mas depois eu comecei a dar um tempo entre as novelas... pra poder fazer show. Foi uma fase muito legal, o João Araújo sempre foi muito generoso. Quando Tomaz Muñoz fez uma proposta pra CBS, pra gente até fazer coisas internacionais, o João ainda me tinha sob contrato... mas me liberou na hora. Eu queria alçar vôo...