Los Shakers
dispostos a quebrar tudo
Alejandra Volpi
Los Shakers são considerados um mito - que continua vivo. Seus discos foram cultuados por artistas de porte como Luis Alberto Spinetta e Charly Garcia. Até hoje, 37 anos após a dissolução do grupo, o material que editaram continua sendo comercializado em toda a América Latina, Europa e Estados Unidos.
Voltar parecia uma utopia difícil de realizar. No entanto, em maio de 2005 Los Shakers anunciaram sua volta aos palcos. Lá eles estavam: Hugo e Osvaldo Fattoruso, Roberto "Pelín" Capobianco e Carlos "Caio" Vila, retomando as atividades de uma banda que revolucionou a cena musical riopratense na década de 60, com sucessos tais como Break It All e Never Never.
Em setembro de 2005 gravaram um novo disco no estúdio Circo Beat de Buenos Aires, numa fusão da essência "shakereana" com a experiência adquirida em mais de quarenta anos dedicados a diferentes vertentes musicais.
O resultado é "Bonus Tracks", um álbum com doze composições fantásticas e uma versão de Break It All que inclui piano acústico.
Los Shakers apresentam algumas modificações nesta nova etapa. Cantam em espanhol e soam diferente, já que a formação básica (duas guitarras, baixo e bateria) mudou para baixo, teclado e duas baterias. Mas é claro que, na hora de interpretar seus clássicos, Hugo e Osvaldo tocam guitarras.
Resumindo: antigamente eles brincavam de ser Os Beatles e agora brincam de ser Los Shakers.
Experimentaram o sucesso quando ainda eram muito jovens. Hugo lembra que "experimentamos o sucesso com a intensidade da juventude e no contexto de mudança mundial após o surgimento da música pop ".
Por que foi que decidiram imitar Os Beatles?
RC - Hugo me perguntou se gostaria de "brincar de ser os Beatles"... e por que não? O trabalho musical era muito bom. No início somente tocávamos suas músicas, como se fôssemos eles, imitando o cabelo longo, as roupas etc. Quando fomos contratados por uma gravadora argentina, eles disseram para nós: "Beatles não, eles já temos, queremos músicas feitas por vocês, no mesmo estilo". E foi assim que aconteceu. Dos Beatles só ficou o cabelo longo e o jeito de vestir.
CV - Nessa época não havia muitas opções, ou continuávamos tocando jazz e bossa nova para um grupo reduzido de pessoas ou incursionávamos na música popular tocando Beatles, que era o fenômeno musical do momento.
Que sensação provoca esse reencontro?
HF - Para mim é uma grande alegria.
RC - Parece que o tempo não tivesse passado. Estamos mais velhos, temos cabelos brancos e alguns quilinhos a mais, mas não perdemos nosso senso de humor e ainda amamos o que fazemos.
Como definiriam o novo disco, "Bonus Tracks", comparado com os trabalhos anteriores?
HF - Os estúdios de gravação modernos são bem diferentes e a formas de gravar são infinitas. Isto faz uma grande diferença. porque antigamente o que você gravava era o produto final. As diferenças são que cantamos em espanhol e estas músicas são acompanhadas por Caio e Osvaldo nas baterias, Pelín no baixo e eu nos teclados.
RC - "Bonus Tracks" é a continuação de "La conferencia secreta dei Toto's Bar" e os músicos são os mesmos.
CV - O novo disco mantém sem dúvidas uma ligação com os trabalhos anteriores. O som Shakers continua presente.
Quanto vocês aplicaram da experiência musical adquirida em todos estes anos?
HF - Minha sorte é a paixão que sinto pela música, sem importar o estilo. "Bonus Tracks" pretende ser uma coleção de músicas destes quatro montevideanos teimosos.
RC - Depois de 37 anos fazendo todo tipo de música, é difícil não ter alguma coisa boa e interessante para contribuir.
CV - O novo disco pretende não somente alegrar o público da nossa geração mas também interessar as novas gerações.
O virtuoso e o popular são incompatíveis na música? Vocês acham que encontraram o equilíbrio com "Bonus Tracks"?
HF - Quem encontra o equilíbrio é um gênio. O virtuoso é afortunado e o popular tem muito valor. Nós aqui estamos, em pé. Com certeza alguém vai dar a sua opinião.
RC - Virtuosismo é a demonstração técnica que pode ter um músico com seu instrumento. Mozart era um virtuoso e continua sendo popular com suas obras. "Bonus Tracks" é o resultado do que somos agora e do que fomos sempre: músicos espontâneos e honestos.
Ser roqueiros aos 60 anos... algo que parecia exclusividade dos Rolling Stones e uns poucos. Como vocês assumem isto?
HF - Nós não somos roqueiros mas fazemos rock and roll. Ouça a nova versão de Baby Do The Shake e você vai ver... (rindo)
RC - Ser roqueiro aos 60 não é diferente de ser tangueiro aos 60; é um estilo de música que toca quem pode fazê-lo e gosta do estilo.
Vocês influenciaram o rock riopratense. Gostam do gênero atual?
HF - Eu não acredito que tenhamos influenciado nenhum rio nem nenhum rock. O gênero atual é liderado por talentos e lutadores, pessoas que gostam do que fazem.
CV - Talvez tenhamos contribuído com alguma coisa, não tenho certeza. Atualmente você pode ouvir todo tipo de música no mundo (boa e ruim) e eu não encontro nenhuma influência dos Shakers.
Em "Bonus Tracks" acham que tem outra música como Break It All (além do original)?
HF - Quando gravamos Quebrem Tudo (Break It All), não sabíamos que ia sobreviver tanto tempo, com tanta força. Se tivermos sorte talvez apareça algum outro Quebrem Tudo em algum momento.
RC - Break it All é uma música única e é por isso que fizemos uma versão, mas seria como querer encontrar outro Yesterday em qualquer disco dos Beatles.
CV - Quebrem Tudo foi um sucesso dos anos 60, feito para aquela época. Em "Bonus Tracks" haverá outro sucesso relativo a esta época; é o público que faz os sucessos.
Por que foi que decidiram cantar em espanhol?
HF - É parte da nova proposta. Nunca entendi como no Rio da Prata um quarteto pode subsistir cantando em inglês durante quatro anos e meio.
RC - Porque todo mundo pode entender. Já o fizemos naquela época e soava muito bem. Não gostávamos das versões que se faziam das nossas músicas, porque eram traduções de péssimo gosto.
Quais são as expectativas? Gravar quantos discos? Quais são os projetos?
HF - Tocar ao vivo de maneira elegante e oferecendo um espetáculo de boa qualidade.
RC - Projetos há muitos e nos anima que as pessoas acreditem no nosso trabalho. Para nós continua sendo um entretenimento, e se antes brincávamos de ser Os Beatles, agora brincamos de ser Os Shakers, que é muito mais fácil.
CV - Isso vai depender do público e da forma como "Bonus Tracks" seja recebido. O talento e a criatividade são nossa "gasolina" e sempre estaremos prontos para ir no estúdio inventar um novo capítulo.
O que é que cada um de vocês fez - em linhas gerais - nestes últimos 37 anos?
HF - Opa, Los Pusilánimes, Grupo del Cuareim, Trio Fattoruso, piano solo, morei nos Estados Unidos durante quinze anos - em duas etapas - e oito anos no Brasil. Depois voltei ao Uruguai, onde moro há oito anos.
PC - Em 1968 fui para o Rio de Janeiro, e sempre trabalhei com a música. Fui arranjador nos anos 70 e gravei com muitos artistas; toquei em várias bandas - guitarra e contrabaixo elétrico. Em 1973 entrei na Orquestra Sinfônica do Rio, em 1976 na Sinfônica da USP. Em 1985 voltei à música clássica e isso era o que fazia até alguns meses atrás.
CV - Eu estive 27 anos na Venezuela, tocando e trabalhando como produtor e diretor artístico em várias empresas fonográficas: PolyGram, Sono Rod Ven e Sony Music. Aprendi muito do outro lado da música.
Que erros não cometeriam mais?
HF - Eu sempre cometo erros, mas não são graves.
RC - Erros cometemos sempre, aos 20 e aos 60 anos, e a experiência não serve muito, já que cada situação e cada momento são novos.
CV - Fazendo uma avaliação geral, eu diria que foram muito mais os acertos que os erros. Prova disto é que continuamos tocando depois de 40 anos e decidimos voltar.
(Nota do Portal JG: agradecimento especial a Sérgio Farias)