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Tudo de Novo:
Ronnie Von Revisitado

A fase tropicalista e psicodélica de Ronnie Von parecia destinada a seguir para sempre como um dos segredos mais bem guardados da transição entre a Jovem Guarda e o rock nacional anos 70. Unindo a ingenuidade dos anos 60 a doses de Mutantes e Beatles pós-67, os discos daquele período podem ser colocados ao lado das obras tropicalistas do período sem favor algum - e olha que é complicado até mesmo colocar Ronnie no escaninho da "jovem guarda", por causa de uma suposta briga que ele teria tido com o líder Roberto Carlos (e que o teria colocado de fora do programa comandado pelo trio Roberto-Erasmo-Wanderléia).



Agora, além de ter boa parte de sua discografia dessa época relançada em CD pela Universal, Ronnie também tem a alegria de ver sua obra do fim dos anos 60 homenageada num interessante tributo capitaneado por novas bandas de todos o Brasil. Talvez até para ele próprio (que já se declarou uma pessoa "esquecida musicalmente") seja complexo imaginar que haja tanta gente se interessando por sua obra, que passou um belo tempo na clandestinidade, sem relançamentos ou matérias em revistas, jornais, etc. Mas é isso aí: além da ótima qualidade dos discos originais - e isso sem falar nas faixas "alternativas", lançadas só em singles ou trilhas de novela, como "Minha gente amiga" e "Regina" - o cantor ganhou uma bela homenagem.

Tudo de novo, o tributo, não existe - pelo menos por enquanto - em versão "física". É posível baixá-lo do site www.ronnievon.com, aonde dá para também pegar as capas dos dois CDs (sim, disco duplo!) e ler textos do próprio Ronnie, de fâs e de antigos colaboradores, abençoando a empreitada. A idéia foi da jornalista paulista Flávia Durante, que havia tomado contato com a obra de Ronnie por intermédio de matérias na mídia - numa época em que pouca gente lembrava da fase psicodélica dele, lá por 2001. Depois, com o suegimento do Orkut, ela criou uma comunidade em homenagem a Ronnie e foi montando o tributo, de levinho, com grande participação das próprias bandas na organização.

Tudo de novo traz, no primeiro CD, o disco Ronnie Von vol.3, de 1968, inteirinho regravado. A melhor versão, disparado, é a da banda pernambucana Rádio de Outono, que releu "Espelhos quebrados" numa animada versão, com cara meio new wave meio sessentista, órgão hammond e sem guitarras (a banda não usa o instrumento). Mas tem também o peso dos paulistas Detetives, de SP, em "Anarquia", a versão em inglês de "Silvia 20 horas domingo" feita pelos cariocas do Naiti, etc. Nas letras, Ronnie jogava lixo abaixo todas as acusações ade alienação que faziam à jovem guarda - não que ele fizesse músicas de protesto, mas tinha tudo lá: surrealismo, poesia jovem, psicodelia, brasilidades, temas inspirados pela guerra do Vietnã ("em meioa tanta paz/é tão difícil crer/que neste mesmo instante morre alguém", em "Tristeza num dia alegre", relida pelos niteroienses do Clube da Luta), etc

No segundo disco, dá pra ter um painel mais abrangente do que Ronnie fez, com músicas de outros discos, como A misteriosa luta do reino de Parassempre contra o imperio de Nuncamais e A máquina voadora, além de várias músicas de singles. Boa parte da turma que se reúne para mexer no baú da psicodelia nativa aparece por aqui: o Continental Combo emociona com "Pare de sonhar com esrelas distantes", Plato Dvorak e banda mandam bala na romântico-psicodélica "Menina azul", Astronauta Pinguim transforma a toada "Pra chatear" num rock´n roll instrumental e "Máquina voadora" vira um rock ao mesmo tempo moderno e psicodélico nas mãos de Vini F. - só dá pena deles não terem dado espaço para a versão que Nervoso & Os Calmantes fizeram da mesma música. Enfim, tudo é uma grande surpresa. Mas bom mesmo é ouvir o o original - quando esta edção do IM chegar às bancas,a Universal já deverá ter distribuído os CDs Ronnie Von, cheio de versões dos Beatles, Ronnie Von vol. 3 e A máquina voadora (inexplicavelmente, A misteriosa luta... não saiu).